Opinião: O Quarto de Giovanni | James Baldwin

Autor: James Baldwin
Título Original:
Giovanni’s Room (1956)
Editora: Alfaguara
Páginas: 192
ISBN: 9789896657611
Tradutor: Valério Romão
Origem: Comprado
Comprar: Wook | Bertrand (links afiliados)

Sinopse: David, um jovem nova-iorquino, vive ao sabor dos dias em Paris, cidade onde procura tomas rédeas da vida enquanto a noiva passa uma temporada em Espanha. Numa noite de farra num bar clandestino, David conhece Giovanni, um barman italiano, luminoso, sedutor, impertinente, e sente-se irremediavelmente atraído. Os dois homens entregam-se a uma relação intensa, confinada ao quarto de Giovanni, com a nuvem do retorno iminente de Hella a pairar sobre os amantes. Um postal anuncia o inevitável: a noiva estará de volta a Paris. O regresso exige que David escolha entre a normalidade de uma vida segura com Hella e a incerteza de um futuro ao lado de Giovanni, todo ele coração, força e instinto. A decisão do americano culminará numa tragédia inimaginável. Impregnada de paixão, arrependimento e desejo, esta é a história de um trágico triângulo amoroso. E uma obra de culto merecido, que questiona a identidade de vários ângulos. Ao publicá-la em 1956, Baldwin quebrou mais do que um tabu: era um escritor negro a escrever sobre o amor entre dois homens brancos. O seu editor aconselhou-o a queimar o manuscrito, mas volvido este tempo O quarto de Giovanni é uma das obras mais célebres de Baldwin.

Opinião: Depois de uma estreia arrebatadora com este autor clássico norte-americano (Se esta rua falasse), tinha naturalmente muita vontade de continuar a explorar a obra de James Baldwin, que felizmente a Alfaguara tem vindo a publicar em Portugal. Optei por prosseguir com este O Quarto de Giovani, um dos seus livros mais reconhecidos.

Esta história decorre na Paris dos anos 50 do século passado, e segue um jovem norte-americano, David, que se encontra na capital francesa em busca de um rumo para a sua vida. À sua instável vida familiar, juntam-se muito problemas de identificação sexual e várias questões de alienação social, muito bem enquadradas na história através da relação de David com Giovanni. Os dois conhecem-se num bar gay e, porque está com falta de dinheiro e se sente imensamente atraído por Giovanni, David aceita ir morar no quarto dele. A relação de ambos é conturbada pela impulsividade e intensidade de Giovani, que se contrapõe à aparente passividade e frieza de David.

Na realidade, desde o início do livro que sabemos que a história dos dois não irá acabar bem, restando ao leitor percorrer as páginas deste livro para perceber o que aconteceu. Contado de forma não linear por David, é através da perspetiva dele – e, quiçá, com o enviesamento da sua visão – que acompanhamos esta história triste e melancólica, que traz reflexões intemporais sobre a forma como lidamos com a nossa identidade e as dificuldades em aceitar quem realmente somos.

A prosa de James Baldwin é, como já esperava, fantástica. Marquei imensas passagens neste livro, frases que achei que mereciam ser lidas e relidas em ocasiões futuras. Mas mentiria se dissesse que este foi um livro que me envolveu em termos emocionais. Não sei se foi propositado da parte do autor, mas sendo a história narrada por uma personagem pouco afável e cativante, a narrativa acaba por assumir esse tom e, provavelmente por isso, acabou por não me encantar. Os problemas de identificação são universais e intemporais, claro, e são temas muito interessantes para se explorar num livro, mas a forma distante e pouco emocional como a personagem os vive – ou como o autor optou por transmiti-los – acabou por evitar que esta fosse uma leitura marcante.

Ainda assim, não posso deixar de recomendar este livro tão bem escrito. Os motivos que me levaram a não apreciá-lo tanto como gostaria são quase exclusivamente pessoais, por isso deixo o convite a que o leiam e que depois me digam se concordam com a minha opinião.

Classificação: 3/5 – Gostei

mae-billboard

Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.