Autor: Ana Pessoa
Ilustrador: Bernardo P. Carvalho
Ano de Publicação Original: 2016
Editora: Planeta Tangerina
Páginas: 192
ISBN: 9789898145772
Origem: Recebido para crítica
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Numa longa carta dirigida a Júlio Pirata, Maria João faz o balanço dos anos vividos na praceta que ambos partilharam durante a infância e a adolescência. Entre a mágoa e o humor, Maria João organiza os seus pensamentos e emoções, concentrando forças para inaugurar um novo capítulo da sua história.
Opinião: Maria João, uma jovem de 16 anos, decide escrever uma série de cartas a um amigo de infância, Júlio Pirata. No início da história, não percebemos bem porquê, mas depressa ficamos a par da importância de Júlio na vida da rapariga e do quanto ela quer que ele o perceba; as cartas acabam, assim, por funcionar como uma espécie de catarse, através das quais a rapariga tenta entender o que sente e onde os seus sentimentos a podem levar. As cartas são intercaladas as ilustrações de Bernardo P. Carvalho, todas em tons de azul, que lhe dão um toque muito especial.
Através das cartas de Maria João – ou Mary John, como Júlio a trata – ficamos a saber como os dois se conheceram ainda em crianças e de como desenvolveram uma ligação especial, que ela desejava profundamente que fosse para sempre. Mas seria realmente a relação dos dois especial, ou era apenas fundada nesse enorme desejo de Maria João?
Não sendo eu o público-alvo deste livro, que se destina a uma faixa etária que já abandonei há uns bons 20 anos, havia algum receio da minha parte em que esta leitura não tivesse impacto por os dilemas da adolescência serem já algo distante. Mas a verdade é que Ana Pessoa consegue aqui apresentá-los de uma forma universal, fazendo com que o leitor adulto regresse a essa fase da vida e recorde com vividez os sentimentos de inadaptação tão típicos da fase adolescente da nossa vida. A autora consegue criar aqui uma personagem tridimensional, muitíssimo interessante pela mistura da inocência da idade com a sabedoria inata de uma alma antiga.
Mary John alia uma prosa acima da média a um registo bastante acessível, o que o torna muito cativante para adolescentes e adultos. Os primeiros terão, certamente, muito com que se identificar no que respeita ao relato das dores de crescimento, e aos segundos não faltarão pontos de contacto com vivências da juventude. Foi uma leitura que me absorveu e cativou e que, por isso, só posso recomendar, com o desejo de continuar a descobrir os livros desta autora portuguesa.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante