Autor: João Guimarães Rosa
Ano de Publicação Original: 1956
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 472
ISBN: 9789896658137
Origem: Comprado
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Opinião: Se hoje me perguntassem “Qual foi a tua leitura mais desafiante até à data?“, a resposta seria, sem dúvida, Grande Sertão: Veredas. Tomei conhecimento da existência deste livro através de alguns booktubers brasileiros, que o elogiaram como um grande clássico brasileiro e marco na literatura do país. Quando foi publicado em Portugal no ano passado, comprei-o e a leitura conjunta realizada pela Isabella Lubrano, do canal literário Ler Antes de Morrer, no passado mês de julho foi o empurrão que precisava para finalmente lhe pegar.
Não sou do tipo de leitora que desiste facilmente de um livro; aliás, nem sequer consigo dizer qual foi o último livro que deixei de lado. Quando iniciei a leitura de Grande Sertão: Veredas e li a primeira página não percebi absolutamente nada. Aliás, só ao fim da terceira tentativa comecei a conseguir dar algum sentido às palavras que estava a ler. Li mais algumas páginas e, perante a enorme dificuldade, considerei seriamente desistir. Li algumas opiniões sobre o livro e houve uma que dava uma sugestão preciosa: se tiverem a possibilidade de ler em formato e-book, num e-reader no qual possam consultar significados, irá ajudar imenso. E foi assim que, juntando a minha teimosia à ajuda esporádica do dicionário, fui avançando na leitura.
Demorei umas boas 40-50 páginas a habituar-me à oralidade e complexidade do discurso do texto de João Guimarães Rosa, mas depois disso, com maior ou menor dificuldade, consegui levar a água ao meu moinho. Já idoso, um homem marcado pelo seu passado de jagunço conta a história da sua vida a um visitante que passa pela sua fazenda. Riobaldo, assim é o seu nome, viveu no período áureo dos jagunços, bandos de homens que faziam justiça pelas próprias mãos e que, não raras vezes, eram contratados por chefes políticos para defenderem os seus interesses.
A narrativa consiste, assim, num enorme monólogo ao longo do qual Riobaldo vai falando em episódios da sua vida, de forma não linear, sendo o seu discurso sempre marcado pelos regionalismos sertanejos, deixando muitas vezes ao leitor a tarefa de desvendar o verdadeiro sentido de tudo o que diz. E a verdade é que, ainda que tenha havido várias partes das quais não consegui retirar muito sentido ou que tive de reler, ultrapassadas as dificuldades reconheço estar perante um livro rico de significado, inovador na forma e bastante interessante na análise dos conflitos psicológicos que rondam as personagens.
Eu leio por diversos motivos: para me divertir, para aprender, mas também para me desafiar. Apesar de não poder dizer que Grande Sertão: Veredas foi um livro divertido ou cuja leitura me entusiasmou ou emocionou (com exceção das surpreendentes páginas finais), sinto-me mais rica depois de o ter lido, precisamente pelo desafio que a sua leitura propunha. Não recomendo de ânimo leve, mas se gostarem de um bom desafio aqui fica a dica.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante