Opinião: Uma Pequena Sorte | Claudia Piñeiro

Autor: Claudia Piñeiro
Título Original:
Una suerte pequeña (2015)
Editora: Dom Quixote
Páginas: 256
ISBN: 9789722064491
Tradutor: Cristina Rodriguez e Artur Guerra
Origem: Comprado
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Sinopse: Uma mulher regressa à Argentina vinte anos depois de a ter deixado para fugir de uma tragédia. Mas aquela que regressa é outra: já não tem a mesma aparência e a sua voz é diferente. Nem tem sequer o mesmo nome. Será que aqueles que a conheceram em tempos a vão reconhecer? Será que ele a vai reconhecer? Mary Lohan, Marilé Lauría ou María Elena Pujol – a mulher que ela é, a mulher que foi e a mulher que terá sido –, volta aos arredores de Buenos Aires, ao subúrbio onde formou uma família e viveu, e onde irá enfrentar os atores do drama que a fez fugir. Ainda não compreende porque aceitou regressar ao passado que se havia proposto esquecer para sempre. Mas à medida que o vai compreendendo, entre encontros esperados e revelações inesperadas, perceberá também que às vezes a vida não é nem destino nem acaso: talvez o seu regresso mais não seja do que um pequeno golpe de sorte… uma pequena sorte. Claudia Piñeiro surpreende e cativa com este romance incisivo e comovente, onde a realidade e a intimidade se cruzam numa densa teia urdida para prender o leitor.

Opinião: Depois de vinte anos afastada do seu país natal, Marilé regressa a Buenos Aires no âmbito da certificação do método de ensino de uma escola. A sua escola. Aquela repleta de recordações. Aliás, desde que aterra na capital argentina, as recordações apoderam-se da protagonista deste livro, se é que alguma vez a largaram.

Percebemos desde o início da narrativa que algo de muito grave aconteceu no passado de Marilé, algo que a levou a abandonar a Argentina e a sua família. Há um pedaço de texto, repetido e ampliado com frequência no início do livro, que vai contando ao leitor – enquanto o mantém a tentar adivinhar – qual foi a fatalidade que marcou a vida de Marilé para sempre.

E enquanto vamos acompanhando o regresso de Marilé no presente, o foco emocional da história situa-se, sem dúvida, no passado; mas não só no fatídico acontecimento, porque a vida anterior da protagonista, com direito a tudo o que uma vida convencional implica, mais não parece ser do que um mar de lugares-comuns desprovidos de verdadeira felicidade.

Aliás, o conceito de felicidade é um dos grandes temas deste livro, a par das segundas oportunidades e de termos a capacidade de isolar os pequenos momentos felizes e deles retirar energia para enfrentarmos todos os outros – as pequenas sortes, que por vezes parecem tão complicadas de identificar e valorizar.

Uma Pequena Sorte é um livro extremamente bem escrito, parecendo não ter nem mais nem menos palavras do que as necessárias, alinhadas de forma habilidosa para compor uma história cativante e poderosa. É, sem dúvida, uma autora a manter debaixo de olho.

Talvez a felicidade seja isso, um instante onde estar, um momento qualquer em que as palavras sobram, porque seriam precisas muitas para o contar. Atrever-se a tomá-lo na sua condensação, sem permitir que elas, na sua ânsia de o narrar, lhe façam perder a sua intensidade.

Classificação: 4/5 – Gostei Bastante

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.