Autor: Mattias Edvardsson
Título Original: En helt vanlig familj (2018)
Editora: Suma de Letras
Páginas: 472
ISBN: 9789720031310
Tradutor: Carmo Figueira
Origem: Recebido para crítica
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Opinião: E se, de repente, um filho nosso fizesse algo completamente contra os nossos princípios, pondo em causa todos os valores que tanto nos esforçámos por lhe transmitir? É com esse dilema que o pastor sueco Adam Sandell se depara no início desta história, quando a sua filha Stella, de 18 anos, é detida por suspeita de homicídio.
É ele o primeiro a relatar-nos o sucedido, antes de dar voz à sua filha e, por último, à sua mulher. Em cada uma das três partes, o enredo vai sendo tecido e as complexas peças deste puzzle vão sendo encaixadas, até ao desfecho final. Para além do relato dos acontecimentos que antecederam o crime e dos desenvolvimentos legais do caso, estas três vozes vão mostrando ao leitor a sua dinâmica familiar, com particular destaque para a complexa personalidade de Stella, cujos comportamentos na adolescência se desviam muito das expectativas dos seus pais.
Apesar do óbvio interesse em seguir os desenvolvimentos do caso policial e o julgamento, penso que a grande força deste livro é o dilema moral que apresenta. A maioria de nós tenta defender valores fundamentais na nossa vivência do dia-a-dia, e por isso é extremamente desafiante refletir sobre o limite a partir do qual esses valores ficam para segundo plano; ao apresentar-nos a possibilidade da realização de um ato atroz por um filho, o autor joga com a nossa perceção do certo e do errado, tocando naquilo que mais valorizamos na vida. Neste caso em concreto, o alcance do dilema é ainda maior pela profissão do pai e da mãe desta família: ele, alguém que deverá ao máximo reger-se pelos ensinamentos religioso; ela, uma advogada experiente que conhece bem a gravidade de ir contra a lei, sendo réu ou testemunha.
Uma família quase normal pinta um retrato complexo e moralmente desafiante do significado da palavra “família”. Junta num só livro a emoção das reviravoltas de um thriller e a muito bem-vinda densidade psicológica das personagens e das suas relações, tantas vezes esquecida neste tipo de livros. Gostei muito e recomendo.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante