Autor: Niklas Natt Och Dag
Título Original: 1793 (2017)
Editora: Suma de Letras
Páginas: 352
ISBN: 9789896657925
Tradutor: Rita Figueiredo
Origem: Recebido para crítica
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Opinião: 1793 chega a Portugal trazendo consigo vários prémios literários do país de origem do seu autor, a Suécia, com a promessa de ser um thriller histórico cuja ação decorre no final do século XVIII deste país escandinavo. Confesso que iniciei esta leitura com elevadas expectativas, porque gosto muito de romances históricos e gosto igualmente de thrillers, pelo que me pareceu que a junção destes dois géneros, se bem feita, teria tudo para tornar este livro memorável.
Mikel Cardell é um ex-militar que perdeu um braço na Guerra Russo-Sueca de 1788–1790 e que vive ainda com traumas, em especial por ter perdido o seu melhor amigo numa das batalhas navais que ocorreram nesse conflito militar. No início do enredo, é encontrado num rio um cadáver mutilado, sem braços, pernas e olhos. O corpo policial é chamado a intervir, e Cardell conhece Cecil Winge, um advogado conceituado que presta serviços à polícia e que fica muito intrigado com este caso. Mas Cecil sofre de tísica e o estado avançado da doença ameaça o seu trabalho na investigação. Ainda assim, esta dupla improvável junta-se trabalhar num caso que parece envolver altas esferas do poder e que vai levar o leitor a uma viagem imersiva à Estocolmo de finais do século XVII.
Houve muitas coisas que me cativaram neste livro, sendo uma delas a fantástica caracterização do ambiente e da sociedade da época. A recriação dos hábitos e costumes da Estocolmo da altura é muito realista e penso que isto ganha mais impacto pelo facto de Niklas Natt Och Dag ter optado por mostrar ao leitor como vivia o povo e as provações horríveis por que muitas daquelas pessoas tinham de passar. Estocolmo torna-se uma espécie de ente vivo, repleto de tabernas. estalagens e praças onde o comum dos mortais levava a sua vida do dia-a-dia. E é também aí que encontramos duas outras personagens importantes desta história, Kristofer e Anna-Stina, às quais o autor dedica uma parte considerável do livro, e que permitem entrever ainda mais das dificuldades das gentes comuns da época.
Outro aspeto digno de destaque é a caracterização das personagens principais: o passado complicado dá-lhes uma complexidade muito bem-vinda e que ajuda o leitor a criar empatia com elas. Apesar do destino mais ou menos feliz, não há aqui uma personagem que pareça mal desenvolvida ou supérflua; todas têm o seu espaço e este é muito bem utilizado para que elas cresçam aos olhos do leitor. Não posso deixar também de referir a primorosa escrita de Niklas Natt Och Dag, que na minha opinião se adequa na perfeição ao género de livro que decidiu escrever. A resolução do crime talvez seja o ponto menos bem conseguido deste livro, mas acaba por parecer de somenos importância face à qualidade de tudo o resto.
Em suma, 1793 é um excelente livro de estreia, que em alguns momentos me fez lembrar O Perfume, de Patrick Süskind, pela qualidade crua dos ambientes descritos e pela escrita requintada, mas que sem dúvida tem qualidades suficientes para se destacar por mérito próprio. Recomendo sem reservas!
Classificação: 5/5 – Adorei