Opinião: A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te | Rosa Montero

Autor: Rosa Montero
Título Original:
 La ridícula idea de no volver a verte (2013)
Editora: Porto Editora
Páginas: 176
ISBN: 9789720047120
Tradutor: Helena Pitta
Origem: Comprado
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Sinopse: Quando Rosa Montero leu o diário que Marie Curie começou a escrever depois da morte do marido, sentiu que a história dessa mulher fascinante era também, de certo modo, a sua. Assim nasceu A ridícula ideia de não voltar a ver-te: uma narrativa a meio caminho entre a memória pessoal da autora e as memórias coletivas, ao mesmo tempo análise da nossa época e evocação de um percurso íntimo doloroso. São páginas que falam da superação da dor, das relações entre homens e mulheres, do esplendor do sexo, da morte e da vida, da ciência e da ignorância, da força salvadora da literatura e da sabedoria dos que aprendem a gozar a existência em plenitude. Um livro libérrimo e original, que nos devolve, inteira, a Rosa Montero de A Louca da Casa – talvez o mais famoso dos seus livros.

Opinião: Sabem aqueles autores que temos a sensação de que vamos gostar, mesmo que não tenhamos lido o que quer que seja de sua autoria? Aconteceu-me isso com a escritora espanhola Rosa Montero. Tenho há algum tempo por ler A Louca da Casa, que foi reeditado na “Coleção Miniatura” da editora Livros do Brasil, mas decidi começar por A Ridícula Ideia de não Voltar a Ver-te, que apanhei numa promoção no final do ano passado.

Este é um livro de não ficção, no qual Rosa Montero nos fala sobre a vida da famosíssima cientista Marie Curie; mas não se trata de uma biografia nos moldes tradicionais, porque enquanto narra factos mais ou menos conhecidos da vida de Marie, a autora espanhola traça paralelismos com a sua própria vida, naquilo que a levou inicialmente a interessar-se pela cientista: a viuvez e a forma profunda – ainda que breve – como escreveu sobre isso.

A Ridícula Ideia de não Voltar a Ver-te é, a meu ver, mais um ensaio sobre a perda e a forma como se lida com ela, do que propriamente uma biografia sobre Marie Curie. A forma como Rosa Montero a constrói é extremamente original, recorrendo muitas vezes a explicações sobre o processo criativo de escrita do texto que nos apresenta, tornando este livro num interessante exercício metaliterário.

Mas o que mais me apaixonou neste texto foi a forma como a autora espanhola explora a dor da perda de um ser amado, a sensação de inevitabilidade e a dor que surge por vagas, muitas vezes quando parecemos compreender o significado de “para sempre”. Penso ser quase impossível que alguém que tenha passado por uma perda destas não encontre neste texto pontes para o que viveu e continua a viver, mas mais que isso: aquela sensação que alguém conseguiu colocar em belas palavras aquilo que sentimos mas que não conseguimos expressar. Muito, muito bom. Recomendo sem quaisquer reservas.

Só nos nascimentos e nas mortes saímos do tempo; a Terra detém a sua rotação, e as trivialidades em que desperdiçamos as horas caem ao chão como pó de purpurina. Quando uma criança nasce ou uma pessoa morre, o presente parte-se ao meio e deixa-nos espreitar por um instante a frincha da verdade: monumental, ardente e imutável. Nunca nos sentimos tão autênticos como quando bordejamos as fronteiras biológicas: temas a consciência clara de estar a viver uma coisa em grande.

Classificação: 5/5 – Adorei

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.