Opinião: A Vida no Campo | Joel Neto

Autor: Joel Neto
Ano de Publicação: 
2016
Editora: Marcador
Páginas: 232
ISBN: 9789897542336
Origem: Comprado
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Sinopse: Um homem e uma mulher. Um jardim e uma horta. Dois cães. Ao fim de vinte anos na grande cidade, Joel Neto instalou-se no pequeno lugar de Dois Caminhos, freguesia da Terra Chã, ilha Terceira. Rodeado de uma paisagem estonteante, das memórias da infância e de uma panóplia de vizinhos de modos simples e vocação filosófica, descobriu que, afinal, a vida pode mesmo ser mais serena, mais barata e mais livre. E, se calhar, mais inteligente.

Opinião: Há imenso tempo que andava para ler algo do Joel Neto, depois de tantas e tão boas opiniões que tenho lido (e ouvido) sobre os seus livros. Havia qualquer coisa que me dizia que ia gostar muito e não me enganei. Decidi começar pelo seu livro de não ficção, uma série de crónicas escritas no espaço de um ano, maioritariamente a partir do Lugar dos Dois Caminhos, na Ilha Terceira, onde Joel Neto reside com a mulher e os dois cães. 

Cada um dos textos não ocupa mais do que uma página, uma página e meia, e dão ao leitor toda a sensação de calma e da passagem lenta do tempo que associamos normalmente a uma vida vivida no meio da Natureza. A paisagem natural desta ilha açoriana é, ela própria, uma personagem sempre presente; ainda que nem sempre reclame para si o papel principal nas crónicas, a sua presença é latente e fundamental para todo o sentimento que percorre o livro. Parece, de certo modo, ser a cola que junta todos os textos e os ajuda a formar um todo. 

Claro que as gentes e os costumes da terra ocupam também um espaço importante; há várias crónicas deliciosas sobre a forma como as pessoas levam a sua vida e sobre o que é ser terceirense. Visitei a Ilha Terceira em 2011 e é uma viagem que guardo no coração por motivos pessoais; ao ler estes textos, reconheci algumas coisas e fiquei com uma vontade imensa de regressar e explorar recantos escondidos. No fundo, de sentir o pulso àquela terra e às pessoas que lá moram. 

A Vida no Campo faz também, amiúde, comparações entre os modos de viver no campo e na cidade. Teria sido fácil cair na tentação de enaltecer o campo em contraponto com a vida citadina, mas Joel Neto não o faz. Limita-se a explicar, direta ou indiretamente, porque é que o campo faz sentido para ele. Eu, citadina de gema e sem qualquer vontade de mudar de cenário, percebi perfeitamente o encanto do sossego, da Natureza, de uma vida longe da necessidade do ter cada vez mais e cada vez mais depressa. E há qualquer coisa especial na escrita de Joel Neto: uma qualidade evocativa, que parece conseguir de uma forma simples e sem o mínimo esforço. Gostei muito deste livro e mal posso esperar por explorar os seus livros de ficção.

Quem mudou o mundo não foram os camponeses honestos, que pagaram os seus impostos e encheram a igreja da freguesia no dia em que foram a enterrar. Dos aventureiros, dos inventores e dos facínoras – deles sim, reza a História.
Por isso se inventou a literatura.

Esta semana, o meu vizinho Rogério, que é continental, descreveu-me assim os Açores: «Um lugar onde nunca se chega e de onde nunca se parte.» Quem me dera ter sido eu a escrevê-lo.

Classificação: 4/5 – Gostei Bastante

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.