Autor: Maggie O’Farrell
Título Original: I Am, I Am, I Am: Seventeen Brushes With Death (2017)
Editora: Elsinore
Páginas: 256
ISBN: 9789898864314
Tradutor: Joana Neves
Origem: Comprado
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Opinião: Comprei este livro depois de ver o entusiasmo d’A Mulher que Ama Livros e de ter ficado com a sensação que iria realmente gostar. Ia dizer que nunca tinha ouvido falar desta escritora nascida na Irlanda do Norte, mas mentiria; tenho, no conjunto dos livros meio perdidos na minha estante, à espera de serem lidos, outro de sua autoria: Antes de nos Encontrarmos, publicado já há quase 10 anos por cá.
Estou Viva, Estou Viva, Estou Viva pede o seu título emprestado a uma célebre frase de A Campânula de Vidro, de Silvia Plath, e é, no fundo, uma celebração da vida enquanto se fala da proximidade da morte. O livro é composto por 17 textos que relatam experiências vividas na primeira pessoa por Maggie O’Farrell, onde relata ao leitor várias situações em que esteve mais ou menos próxima de encontrar a morte. Estes pedaços de vida são-nos apresentados fora de ordem cronológica, o que no início parece algo estranho mas no final acaba por fazer todo o sentido. A autora pega na mão do leitor e, através destes relatos, dá-nos a conhecer a sua visão particular do mundo e fala-nos em todos aqueles momentos em que vislumbrou a morte e que mudaram para sempre a pessoa em que se tornou.
É muito difícil largar este livro assim que o começamos a ler. Maggie O’Farrell escreve com uma autenticidade pouco comum e essa faceta genuína e transparente cativou-me imenso. Ainda que se tratem de situações factuais que nos estão a ser relatadas, a autora fá-lo com uma extrema sensibilidade e uma escrita que parecem setas apontadas ao nosso coração. Fiquei com a sensação que este livro, nas mãos de um escritor menos hábil, seria pouco mais que banal; Maggie O’Farrell transforma-o numa notável celebração da vida contra todas as adversidades.
Dificilmente qualquer elogio da minha parte será suficiente para descrever o quanto gostei deste livro, portanto, deixo-vos com as palavras da autora.
“Não era que eu não desse valor à minha existência; era mais uma questão de ter um desejo insaciável de me forçar a abraçar tudo o que ela pudesse oferecer. Quase perder a vida aos oito anos de idade deu-me uma tranquilidade – talvez excessiva – em relação à morte. Sabia que podia acontecer, a um certo momento, e a ideia não me assustava; a sua proximidade parecia-me, pelo contrário, quase familiar.”
“Não há nada de único ou especial em experiências de quase-morte. Não são raras; toda a gente, diria eu, já as teve, a dado momento das suas vidas, talvez sem sequer se aperceberem. Uma carrinha a passar demasiado perto da bicicleta, quase a tocar-lhe, o paramédico exausto que percebe que a dose devia ser verificada, o condutor que bebeu demais e entrega relutantemente as chaves do carro, o comboio que perdemos quando não ouvimos o despertador, o avião que não apanhámos, o vírus que nunca inalámos, o atacante com que nunca nos cruzámos, o caminho que não tomámos. Estamos, todos nós, a deambular num estado de ignorância inocente, a pedir tempo emprestado, a aproveitar os dias, a escapar aos destinos, a escapar por uma nesga, sem saber quando será dado o golpe.”
Classificação: 5/5 – Adorei