Autores: Thomas Mann
Título Original: Buddenbrooks: Verfall einer Familie (1901)
Editora: Leya/RTP
Páginas: 784
ISBN: 9789722060394
Tradutor: Gilda Lopes Encarnação
Origem: Comprado
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Opinião: A leitura do maravilhoso A Montanha Mágica deixou-me uma certeza: não queria demorar muito tempo a regressar às histórias de Thomas Mann. Pareceu-me boa ideia fazê-lo com o primeiro romance publicado pelo Nobel alemão, quando tinha apenas 26 anos. Aconteceu-me uma coisa curiosa com este livro; comecei a lê-lo em abril e fui quase até metade, mas depois estive dois ou três meses sem lhe pegar e quando decidi que queria realmente concluí-lo senti necessidade de recomeçar do início. Assim fiz e, depois de terminar, reconheço que foi uma boa decisão. Não é que estejamos propriamente perante um livro denso ou difícil de ler, mas é importante para o leitor ter presente o encadeamento dos acontecimentos e as referências que vão sendo deixadas ao longo da narrativa.
Estamos na primeira metade do século XIX quando a história se inicia, e os Buddenbrook são uma das mais proeminentes famílias da burguesia do norte da Alemanha, que ganhou estatuto e riqueza com o comércio de cereais. O negócio da família foi passando de geração em geração e é aquilo que os Buddenbrook mais valorizam, pois permite-lhes manter o status quo adquirido na sociedade, perpetuando assim a grandeza conquistada pelos seus antepassados. Mas, como devem imaginar, a partir de certa altura, as coisas começam a não correr assim tão bem, tanto nos negócios como na vida pessoal dos membros da família, dando a sensação que os dois contextos se influenciam profundamente pela dificuldade de perceber onde começam os revés de um e começam os do outro.
À partida, já sabemos que o destino da família Buddenbrook não será propriamente o mais feliz, mas isso não impede que o leitor se sinta, de certo modo, triste pelo desenrolar dos acontecimentos. Thomas Mann coloca os seus protagonistas num cenário económico e social onde estão a decorrer profundas alterações nos modos de vida da burguesia hanseática, em que o foco se transferiu das famílias e empresas com estatuto adquirido para as que mais rapidamente conseguiram aproveitar os efeitos da galopante industrialização e enriquecer à conta disso. Os Buddenbrook – em especial Thomas, o chefe da família, e a sua irmã Tony – abdicam sem hesitar de tudo para manter o bom nome da família e não deixar que este seja afetado pelas suas opções pessoais; são também eles os que demoram mais tempo a perceber (ou a admitir) que aquilo que foi perdido jamais voltará a ser recuperado. Esta sensação de inevitabilidade percorre toda a história e dá-lhe um toque profundamente nostálgico.
A arte é, também, um tema importante deste livro, personificada em Hanno e na forma como a música enleva a sua vida. Este confronto entre a vida artística e sensível e atitude mais prática e terra-a-terra implícita na profissão de comerciante reflete questões que continuam pertinentes nos dias que correm. Thomas Mann voltaria a este tema em A Montanha Mágica. E, já que falo nessa sua obra, não consigo deixar de comparar os dois livros, ainda que possa parecer algo injusto perante a índole das duas obras. A Montanha Mágica é um livro muito mais denso, menos linear e com mais “sumo”, por assim dizer. Se estão a pensar experimentar este autor, recomendaria começarem por Os Buddenbrook, que se trata de um romance mais tradicional, uma excelente saga familiar, muito bem escrita e que, mais de um século depois de ter sido publicada, continuar a merecer ser lida.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante