Opinião: Pequenos fogos em todo o lado | Celeste Ng

Autores: Celeste Ng
Título Original:
 Little Fires Everywhere (2017)
Editora: Relógio d’Água
Páginas: 320
ISBN: 9789896418489
Tradutor: Inês Dias
Origem: Comprado
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Sinopse: Em Shaker Heights, um pacato subúrbio de Cleveland, está tudo previsto — desde o traçado das ruas sinuosas até à cor das casas, passando pelas vidas bem-sucedidas que os seus residentes levam. E ninguém encarna melhor esse espírito do que Elena Richardson, cujo princípio orientador é obedecer às regras do jogo. A esta idílica redoma chega Mia Warren — uma artista enigmática e mãe solteira — com a filha adolescente, Pearl. Mia arrenda uma casa aos Richardsons. Rapidamente Mia e Pearl se tornam mais do que inquilinas: os quatro filhos dos Richardsons sentem-se cativados pelas duas figuras femininas. Mas Mia traz consigo um passado misterioso e um desprezo pelo statu quo que ameaçam perturbar esta comunidade cuidadosamente ordenada.

Opinião: Pequenos fogos em todo o lado é o segundo livro da autora Celeste Ng, americana filha de pais chineses, e tem feito um sucesso enorme por todo o mundo, em especial depois de ter sido anunciado que será adaptado para uma série televisiva, com a Reese Witherspoon e a Kerry Washington. Comprei o meu exemplar pouco tempo depois de ter saído por cá e quando soube que o #netbookclub d’A Mulher que Ama Livros no Instagram o tinha escolhido como primeira leitura conjunta, decidi que era um excelente oportunidade para mergulhar nesta história.

Viajamos então até Shaker Heights no final dos anos 1990, uma cidade norte-americana conhecida pelo seu desejo de ordem e perfeição como forma de atingir a harmonia, sendo para isso fundamental o planeamento até aos mais pequenos detalhes. É lá que vive a família Richardson, um casal com quatro filhos adolescentes, que incorporam no seu modo de vida os preceitos da sua cidade. Logo no primeiro capítulo do livro, ficamos a par de um acontecimento que dá a entender que algo correu muito mal na vida desta família e, daí em diante, recuamos um ano para sabermos o que levou a que as coisas chegassem àquele ponto.

No início do enredo, Mia Warren e a sua filha adolescente Pearl mudam-se para uma casa que os Richardson têm para alugar e depressa se criam relações entre eles, tanto os miúdos como os adultos, mas as diferenças que existem entre estilos de vida ameaçam a ordem pré-estabelecida e a mãe, Elena, não consegue evitar a curiosidade em saber mais sobre o passado das suas inquilinas.

Pequenos fogos em todo o lado é um livro que se vai insinuando lentamente na mente do leitor e ganhando cada vez maior impacto à medida que a história avança. Os temas tratados são vários e despoletam inúmeras reflexões: desde logo, o efeito borboleta, a ideia de que pequenos atos podes ter grandes consequências; as segundas oportunidades; mas também a forma como as aparências escondem quem as pessoas realmente são e como o espírito rebelde da juventude, pelo qual a grande maioria passou, acaba por se esvair no passar dos dias e esmorece até desaparecer por completo. 

É um livro que se centra, em boa parte, nos dilemas da adolescência, sempre atuais independentemente da época em que o enredo decorre, e tenho de confessar que essa vertente do livro foi aquela que menos me interessou, provavelmente por já ter abandonado essa fase da minha vida há quase 20 anos. Mas eu era adolescente nos anos em que este livro decorre e, ainda que as realidades fossem muito diferentes, acho que a autora consegue uma boa recriação daquilo que era ser adolescente nos anos 1990, sem telemóveis, internet ou redes sociais.

Pequenos fogos em todo o lado é daquele tipo de livros que deixam o leitor a refletir durante um bom tempo depois de terminada a leitura. A história parece não querer abandonar-nos. Acho que isto acontece porque toca na ferida, acerta no alvo, em especial quando nos apresenta uma personagem – neste caso, Elena – que perdeu o seu fogo, não por ser má pessoa, mas por força das circunstâncias. Queremos não gostar dela, mas a forma sublime como Celeste Ng retrata esta personagem não deixa que isso aconteça. Foi uma das coisas que mais apreciei neste livro, como nenhuma das personagens é retratada de forma unidimensional.

Gostei muito e não posso deixar de recomendar.

Durante toda a vida, aprendera que a paixão, tal como o fogo, era uma coisa perigosa. Facilmente se descontrolava. Subia paredes e ultrapassava trincheiras. As mais pequenas centelhas saltavam e espalhavam-se tão rapidamente como pulgas; uma brisa poderia levar brasas para quilómetros de distância. Era melhor controlar a sua centelha e passá-la cuidadosamente de geração em geração, como se fosse uma tocha olímpica. Ou, se calhar, mantê-la cuidadosamente acesa, como uma chama eterna: uma lembrança de luz e bondade que nunca iria – nunca poderia – incendiar nada. Cuidadosamente controlada. Domesticada. Feliz em cativeiro. A chave, pensou ela, era evitar a conflagração. (pág. 154)

Classificação: 5/5 – Adorei

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.