Autores: María Gainza
Título Original: El nervio óptico (2014)
Editora: Dom Quixote
Páginas: 168
ISBN: 9789722064323
Tradutor: Maria do Carmo Abreu
Origem: Comprado
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O Nervo Ótico é um livro de olhares: olhares dirigidos a pinturas e a quem as contempla. Singular e inclassificável, celebra o detalhe e inaugura um género literário no qual confluem, de forma absolutamente perfeita, a história da arte e a crónica íntima, num tom que oscila entre a comédia social e a ironia trágica. Traduzido por grandes editoras em todo o mundo, esta obra de estreia, tão depressa ousada como subtil, apresenta-nos uma grande escritora contemporânea.
Opinião: Começando pelo óbvio, este livro tem uma capa fantástica; na verdade, a pintura é um elemento central neste livro que mistura os géneros do romance, ensaio e autobiografia.
O Nervo Ótico não encerra em si uma narrativa linear, com uma história que se possa dizer ter um princípio, meio e fim. A narradora vai-nos contando episódios da sua vida, entrelaçados com elementos biográficos de alguns dos seus pintores preferidos e falando também das estranhas coincidências que várias das pinturas por eles elaboradas têm com a sua própria história de vida. Quase como se, ao entender o significado das pinturas que observa, pudesse compreender o sentido da sua própria vida.
A escritora argentina María Gainza é, ela própria, crítica de arte, o que sem dúvida contribuiu decisivamente para o olhar particular que tem sobre os pintores e as respetivas obras, sendo notório que nunca lhe faltam as palavras certas para os descrever. Poderei dizer que li com muito mais interesse as secções biográficas e a análise de obras de artes do que as narrativas ficcionais, de certo modo desconexas, que se vão sucedendo. Ainda assim, encontrei paralelismos entre a energia que a narradora retirava da observação de obras de arte, quase como uma necessidade física, e aquilo que eu sinto em relação aos livros e à leitura.
Não hesito em dizer que este é um livro diferente, que ganha pontos pela originalidade da estrutura narrativa e pelo exercício literário que apresenta ao seu leitor, deixando-o com dificuldade em encaixar este romance em qualquer género pré-definido. Agradará eventualmente mais a um leitor exigente, que procura experiência diferentes. Pessoalmente, esperei que me cativasse mais.
Para terminar, uma curiosidade: terminei a leitura deste livro num comboio a caminho do Mosteiro de Montserrat, que possui um excelente museu de obras de arte, onde se encontra, entre muitas outras, uma pintura de El Greco, cuja vida María Gainza aborda neste seu livro. Registei esta como uma coincidência especial, provando a infinita circularidade da relação entre vida e arte.
Classificação: 3/5 – Gostei