Na altura em que frequentei o ensino secundário (final dos anos 1990), e no agrupamento que escolhi (económico-social), as leituras obrigatórias da disciplina de Português B eram, no 11.º ano, Os Maias de Eça de Queiroz e, no 12.º ano, Aparição de Vergílio Ferreira. Relativamente ao primeiro livro, eu já conhecia o Eça de Queiroz porque os meus pais tinham a coleção quase toda dos livros dele (aqueles de capa dura vermelha, da Livros do Brasil); não me recordo se, nessa altura, já teria lido algum desses livros, mas era um escritor cujo nome reconhecia. Não posso dizer o mesmo de Vergílio Ferreira; nunca tinha ouvido falar dele e o exemplar que li até me foi emprestado.
Foram duas experiências de leitura muito diferentes. Gostei muito mais de Os Maias, ainda que me recorde de ter lido as partes mais políticas na diagonal. Outra coisa de que me recordo é que fui das poucas da minha turma que realmente leu o livro e que não se ficou pelos resumos da história. De Aparição não gostei muito: lembro-me de ter tido a perfeita noção que havia ali muita coisa que me estava a escapar, mesmo tendo em conta que o li num âmbito académico, em que me foram dadas ferramentas para tentar perceber melhor o existencialismo, parte fundamental desta obra.
É ideia corrente que muitas das leituras obrigatórias são, para a grande maioria dos adolescentes de 16-17 anos, eventualmente demasiado complexas para estas idades. A minha experiência pessoal confirma-o porque mesmo com Os Maias, de que gostei na altura, houve toda uma panóplia de temas e pormenores deliciosos que me escaparam naquela primeira leitura, porque não tinha maturidade ou arcaboiço para os apreender em toda a sua plenitude. Uma releitura vários anos mais tarde tornou isto bastante óbvio. Ainda não regressei a Aparição, o que conto fazer no futuro, mas suspeito que a conclusão será a mesma.
E isto leva-me ao motivo que me fez escrever hoje sobre leituras obrigatórias. Ainda que seja a favor da possibilidade da introdução de outros autores portugueses como projetos de leitura laterais, considero fundamental que se estudem os grandes autores clássicos portugueses. Eu sei que a maior parte dos miúdos destas idades tem outros interesses e a probabilidade de acharem a leitura destes autores uma valente seca é enorme, mas é importante que, pelo menos, saibam que eles existem e quiçá, um dia mais tarde, possam voltar a eles e apreciá-los devidamente. Em ambiente escolar, sem dúvida que os professores têm um papel fundamental em tornar estes livros mais apelativos e tentar, dentro do possível, demonstrar a importância que as suas obras tiveram e têm para a nossa cultura e país, de um modo geral.