Opinião: A Estrada Subterrânea | Colson Whitehead

Autor: Colson Whitehead
Título Original:
The Underground Railroad (2016)
Editora: Alfaguara
Páginas: 384
ISBN: 9789896652807
Tradutor: Paulo Ramos
Origem: Comprado
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Sinopse: Cora é escrava numa plantação de algodão no Estado sulista da Geórgia. A vida é um inferno para todos os escravos, mas particularmente difícil para Cora. Abandonada pela mãe, ela cresce no meio da mais difícil solidão, a dos que são marginalizados pelos seus iguais. Quando Caesar, um jovem escravo acaba de chegar do Estado vizinho da Virgínia, lhe fala da estrada subterrânea, os dois decidem correr um risco fatal e fogem da plantação, rumo ao Norte e à Liberdade. Nessa madrugada de mau presságio, inicia-se uma fuga sangrenta, uma odisseia de esperança e de desilusão.

Opinião: Tinha muitas expectativas em relação a este livro, por ter vencido em 2017 o Man Booker Prize e o Prémio Pulitzer para a Ficção. O tema da escravatura interessa-me bastante e não me lembro de ter lido nada de extraordinário sobre ele na literatura, por isso achei que esta seria uma excelente oportunidade.

No século XIX, existiu realmente algo chamado Underground Railroad. Tratava-se de uma rede de rotas e casas secretas que se destinavam a ajudar os escravos afro-americanos a fugir para estados nos E.U.A. em que poderiam ser livres e também para o Canadá. A estimativa é que em meados do século XIX, cerca de 100.000 escravos tenham conseguido fugir por essa via. Neste livro, Colson Whitehead toma a liberdade criativa de transformar esta Underground Railroad numa linha ferroviária subterrânea, com uma série de estações escondidas onde os escravos poderiam embarcar para fugir para a liberdade no norte.

Neste livro, acompanhamos a vida de Cora, uma escrava numa das plantações de algodão no estado da Geórgia, que foge com Caesar através da estrada subterrânea (curiosamente, apesar do título escolhido para esta edição, nunca ao longo do livro é chamada por este nome, mas antes “caminho de fuga”). Cora vive com a mágoa de ter sido abandonada pela mãe em criança, quando Mabel decidiu fugir da plantação para nunca mais ser vista. Apesar dos batedores que a buscaram incessantemente, Mabel ficou como uma das poucas que conseguiu não ser capturada. Apesar desse sentimento de tristeza, Cora continua a procurar a mãe por onde vai passando, enquanto o leitor a acompanha na fuga incessante rumo ao norte.

Achei a ideia de transformar a Underground Railroad numa verdadeira ferrovia subterrânea muito, muito interessante. O livro tem ação, tem passagens bonitas e suscita reflexões acerca da escravatura – a real e a menos literal – sendo, por isso, bastante atual. Mas a verdade é que, pessoalmente, não me emocionou. Muitos dos acontecimentos relatados são terríveis, mas o impacto esfuma-se quando as vítimas não se tornaram reais a priori aos olhos do leitor. Senti falta de um maior desenvolvimento das personagens, algo que as tornasse mais reais e humanas e que me fizesse realmente preocupar-me com o seu destino.

Não há dúvidas que A Estrada Subterrânea tem os seus méritos, nomeadamente a nível de escrita e temas, mas o tom impessoal com que se apresenta ao leitor não permitiu que, para mim, se tornasse uma leitura memorável.

Classificação: 3/5 – Gostei

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.