Opinião: Jalan Jalan – Uma Leitura do Mundo | Afonso Cruz

Autores: Afonso Cruz
Ano de Publicação Original:
 2017
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 656
ISBN: 9789896652289
Origem: Comprado
Comprar aqui (link afiliado)

Sinopse: “Apesar da beleza da paisagem, dos campos de arroz, do verde omnipresente, dos templos hindus, dos macacos zangados, uma das melhores coisas que trouxe de Bali foi uma oferta do João, que me embrulhou e ofereceu uma palavra, talvez duas: Jalan significa rua em indonésio, disse-me. Também significa andar. Jalan jalan, a repetição da palavra, que muitas vezes forma o plural, significa, neste caso, passear. Passear é andar duas vezes. (…) Passear é o que fazemos para não chegar a um destino, não se mede pela distância nem pela técnica de colocar um pé à frente do outro, mas sim pelo modo como a paisagem nos comoveu ou como o voo de um pássaro nos tocou. E um pouco como a arte, tem o valor imenso de tudo aquilo que não tem valor nenhum. Pode não ter razão, destino, objectivo, utilidade, e é exactamente aí que reside a riqueza do passeio. Não existem profissionais do passeio. Chesterton, que era um grande apologista do amador, dizia que as melhores coisas da vida, bem como as mais importantes, não são profissionalizadas. O amor, quando é profissionalizado, torna-se prostituição.»

Opinião: Jalan Jalan, a novidade mais recente do prolífico autor português Afonso Cruz, é uma compilação de vários textos do autor, de temáticas diversas, mas em que as viagens assumem um papel central. A diversidade é mesmo a palavra de ordem neste livro de peso, uma vez que o autor nos conta episódios, impressões ou aprendizagens das suas inúmeras viagens pelo mundo, abordando temas sociais, filosóficos, espirituais ou religiosos de acordo com a sua particular visão do mundo.

Os romances que li anteriormente de Afonso Cruz, sejam eles de grande monta (como Para Onde Vão os Guarda-Chuvas) ou menos complexos (como Vamos Comprar um Poeta ou Os Livros que Devoraram o Meu Pai) mostraram-me um autor com uma imaginação notável e uma inclinação quase hipnotizante para os pequenos detalhes, para as pequenas grandes coisas da vida. A curiosidade por saber como se sairia num registo diferente daquele a que nos tem habituado era muita, bem como a vontade de conhecer um pouco melhor o homem e o pensador que tantas belas histórias tem oferecido aos seus leitores. Finda a leitura de Jalan Jalan, posso dizer que o objetivo foi cumprido.

Sente-se nos textos de Afonso Cruz alguma desconsideração pelo turismo de massas, pelas viagens que se fazem em que não se procura conhecer para além da superfície. O tom não é condescendente e, por isso, consegue que o leitor reflita sobre as viagens empreendidas e sobre aquilo que realmente foram e significaram. Eu tenho um espírito muito pouco aventureiro, por isso achei incríveis algumas das histórias relatadas, pela ingenuidade e coragem do autor em situações que o comum dos mortais identificaria como perigosas. Mas, de alguma forma, sentimos que todos esses acontecimentos contribuíram para o autor se ter tornado na pessoa que é hoje, e para nos mostrar, aqui e agora, como lê o mundo. O livro é enriquecido com fotos próprias e, no final de cada texto, existem referências a outros textos relacionados na compilação.

Penso que Jalan Jalan pede um leitura pausada e intercalada; há muito para analisar, para refletir e para digerir. Eu gostava de o ter feito, mas não consegui: fiquei imediatamente fascinada com o que estava a ler e não consegui parar até ter terminado. Eventualmente, o ritmo a que li este livro contribuiu para que, a determinada altura, tivesse sentido alguma repetição de ideias e abordagens, e este aspeto é o que me impede de lhe atribuir a classificação máxima. Mas, como é óbvio, isto tem a ver comigo enquanto leitora e pouco com aquilo que Jalan Jalan oferece ao seu leitor.

Finda a leitura, o que fica é uma enorme empatia para com o autor e a forma como ele encara este mundo em que vivemos. Sente-se nas suas palavras o homem estudioso dos clássicos, que procura entender a vida através da filosofia, das artes e do pensamento. Todo este livro é uma citação que merece ser guardada. Recomendo!

Classificação: 4/5 – Gostei Bastante

mae-billboard

Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.