Autores: Afonso Cruz
Ano de Publicação Original: 2017
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 656
ISBN: 9789896652289
Origem: Comprado
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Opinião: Jalan Jalan, a novidade mais recente do prolífico autor português Afonso Cruz, é uma compilação de vários textos do autor, de temáticas diversas, mas em que as viagens assumem um papel central. A diversidade é mesmo a palavra de ordem neste livro de peso, uma vez que o autor nos conta episódios, impressões ou aprendizagens das suas inúmeras viagens pelo mundo, abordando temas sociais, filosóficos, espirituais ou religiosos de acordo com a sua particular visão do mundo.
Os romances que li anteriormente de Afonso Cruz, sejam eles de grande monta (como Para Onde Vão os Guarda-Chuvas) ou menos complexos (como Vamos Comprar um Poeta ou Os Livros que Devoraram o Meu Pai) mostraram-me um autor com uma imaginação notável e uma inclinação quase hipnotizante para os pequenos detalhes, para as pequenas grandes coisas da vida. A curiosidade por saber como se sairia num registo diferente daquele a que nos tem habituado era muita, bem como a vontade de conhecer um pouco melhor o homem e o pensador que tantas belas histórias tem oferecido aos seus leitores. Finda a leitura de Jalan Jalan, posso dizer que o objetivo foi cumprido.
Sente-se nos textos de Afonso Cruz alguma desconsideração pelo turismo de massas, pelas viagens que se fazem em que não se procura conhecer para além da superfície. O tom não é condescendente e, por isso, consegue que o leitor reflita sobre as viagens empreendidas e sobre aquilo que realmente foram e significaram. Eu tenho um espírito muito pouco aventureiro, por isso achei incríveis algumas das histórias relatadas, pela ingenuidade e coragem do autor em situações que o comum dos mortais identificaria como perigosas. Mas, de alguma forma, sentimos que todos esses acontecimentos contribuíram para o autor se ter tornado na pessoa que é hoje, e para nos mostrar, aqui e agora, como lê o mundo. O livro é enriquecido com fotos próprias e, no final de cada texto, existem referências a outros textos relacionados na compilação.
Penso que Jalan Jalan pede um leitura pausada e intercalada; há muito para analisar, para refletir e para digerir. Eu gostava de o ter feito, mas não consegui: fiquei imediatamente fascinada com o que estava a ler e não consegui parar até ter terminado. Eventualmente, o ritmo a que li este livro contribuiu para que, a determinada altura, tivesse sentido alguma repetição de ideias e abordagens, e este aspeto é o que me impede de lhe atribuir a classificação máxima. Mas, como é óbvio, isto tem a ver comigo enquanto leitora e pouco com aquilo que Jalan Jalan oferece ao seu leitor.
Finda a leitura, o que fica é uma enorme empatia para com o autor e a forma como ele encara este mundo em que vivemos. Sente-se nas suas palavras o homem estudioso dos clássicos, que procura entender a vida através da filosofia, das artes e do pensamento. Todo este livro é uma citação que merece ser guardada. Recomendo!
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante