Autor: Ursula K. Le Guin
Título Original: The Left Hand of Darkness (1969)
Série: Hainish #6
Editora: Editorial Presença
Páginas: 254
ISBN: 9789722329880
Tradutor: Fátima Andrade
Origem: Empréstimo
Le Guin explora criativamente os temas da identidade sexual, incesto, xenofobia, fidelidade e traição deixando, como na maior parte dos seus trabalhos, uma poderosa mensagem social que nos convida a ir além do racismo e sexismo. Um livro fascinante do princípio ao fim descrito como “um brilhante rasgo de imaginação” e considerado um dos grandes romances do século XX. Um imperdível clássico de ficção científica.
Opinião: Quando foi publicado originalmente em 1969, A Mão Esquerda das Trevas alcançou um grande prestígio, tendo valido, pela primeira vez, a atribuição dos Prémios Hugo e Nebula no mesmo ano a uma mulher. É importante referir que este livro está integrado na série Ciclo Hainish (onde também se inclui Os Despojados), mas pode ser lido de forma independente.
Genly Ai, um humano, é enviado ao planeta Gethen para convencer as suas gentes a integrar o Ecuménio, uma organização cuja função é coordenar as relações entre oito dezenas de planetas. Duas nações dominam Gethen (também chamado de Inverno devido ao seu clima inóspito): Karhide, uma monarquia, e Orgoreyn, dividido em distritos, e governado por líderes que se reúnem em conselhos.
Existe uma característica predominante nos habitantes de Gethen e que é um dos focos centrais da narriva: tratam-se de seres andróginos que durante cerca de uma semana em cada mês passam pelo kemmer, um período no qual as hormonas femininas ou masculinas assumem predominância e transformam esse ser num homem ou numa mulher, proporcionando-lhes o que necessitam para acasalar e conceber.
O facto de estas sociedades não terem géneros definidos elimina as diferenças que essas condições suportam, a nível físico e psicológico. Por não existirem géneros, são eliminadas as desigualdades daí advindas, e o mesmo se pode dizer relativamente aos privilégios. Este pressuposto dá a este livro todo um mundo de possibilidades e permite-lhe continuar muito atual.
Isto leva-me àquilo que mais apreciei neste livro: a exploração de possibilidades em torno dos géneros, mas também a convivência entre países com culturas diversas. Este último aspeto é refletido não só nas dificuldades de interação entre Karhide e Orgoreyn, mas também na tentativa de Genly Ai compreender estes países e as pessoas que os habitam.
Tenho de confessar que, inicialmente, não me foi muito fácil entrar neste mundo. Havia demasiados nomes, personagens e conceitos a serem revelados quando a história se inicia, o que me levou a deixar a leitura de lado durante alguns dias. Quando retomei e voltei a entrar no livro, deixei-me fascinar pela intrincada política de Gethen e pela curiosidade em saber mais sobre a sociedade em que viviam estes seres andróginos.
Esse entusiasmo foi-se desvanecendo com a avançar das páginas. Ainda que tivesse curiosidade em saber qual o destino de Genly Ai, não consegui criar grande empatia com as personagens do livro ou preocupar-me realmente com o que lhes iria acontecer . O livro está muito bem escrito, como seria de esperar desta autora, os temas são interessantes e pertinentes, continuando muito atuais quase 50 anos depois da publicação do livro, mas não consegui criar uma ligação emocional forte com estas pessoas, como aconteceu, por exemplo, com Os Despojados ou O Tormento dos Céus. Independentemente deste aspeto relacionado, em exclusivo, com as minhas características como pessoa e leitora, este é um livro muito bom. Não sei se o recomendaria a quem leu pouca ficção científica, mas sem dúvida que é um livro que merece ser lido pela marca que deixou no género.
Classificação: 3/5 – Gostei