Quando eu era miúda, em tempos pré-internet e quando a aquisição de novos livros era limitada, fosse por motivos financeiros, fosse porque havia menos disponibilidade, a quantidade de livros que tínhamos em casa não era muito grande. Havia lá por casa a coleção quase completa das obras do Eça (aquela de capa vermelha com letras douradas, da Livros do Brasil), vários do Fernando Namora, Júlio Dinis, alguns Balzac; bastantes livros de não-ficção, especialmente do período pós-revolucionário; e, também, imensos livros sobre História Mundial, zoologia e outras áreas da ciência. Dentro do género mais infantil, tínhamos muitos livros do Tio Patinhas e companhia, Cebolinha, Mónica, e um pouco mais tarde a fantástica coleção “Uma Aventura”.
Isto tudo para dizer que, por causa do acesso relativamente limitado a livros, relia bastante. Pode ser só impressão minha, mas acho que atualmente se relê cada vez menos. As novidades são mais que muitas e a “pressão” para ler o que de tão interessante se vai publicando é intensa. Portanto, a pergunta “para quê reler, quando há tanta coisa nova e boa por descobrir?” torna-se pertinente.
Dizia Italo Calvino que “clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer“, mas eu acho que não são só os clássicos, são os bons livros de um modo geral. Há um prazer imenso em voltar a virar páginas já nossas conhecidas, reencontrar velhos amigos e recordar emoções já vividas. Existem sensações que uma primeira leitura traz e que dificilmente poderão ser replicadas, mas, para além do que já referi, a releitura traz consigo a possibilidade de encontrar um novo leitor de cada vez, ainda que a pessoa seja a mesma. As experiências de vida e os outros livros que vão passando pela nossa vida trazem novas perspetivas, novas formas de compreensão: no fundo, a multiplicidade de leitores que um livro pode encontrar à medida que o tempo passa ajuda-o a ser entendido de várias formas e potencia tudo aquilo que tem para dizer.
O livro que mais vezes reli foi o meu querido “O Senhor dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien. As primeiras releituras foram algo sôfregas, na tentativa de reviver a forma intensa como me afetou na primeira vez que o li. Depois de alguns anos, voltei a lê-lo, com algum receio que a passagem do tempo tivesse diminuído o seu impacto, mas a verdade é que isso não aconteceu – bem pelo contrário. E isto fez-me lembrar que já há mais de quatro anos que não o releio e se calhar está na altura. Bem, para 2018 estou a preparar uma série de releituras, mas sobre isso falarei noutro post. E vocês, gostam de reler? O que pensam sobre as releituras?