Aqui há uns dias, tive conhecimento de uma opinião de uma escritora portuguesa relativamente a um assunto que anda agora na ordem do dia, o assédio sexual – neste caso em concreto, o que veio a público relativamente ao ator Kevin Spacey. Ora, este é um assunto em relação ao qual eu tenho opiniões bem vincadas e pouco abertas a discussões, indo totalmente contra o que essa escritora pensa sobre o assunto.
Não sendo uma autora que eu costume ler, levou-me a refletir sobre a distinção que se faz entre autor e obra. Este assunto não é novo, mas acho que vale a pena falar sobre ele. À partida, sentir-me-ia tentada a afirmar que devemos procurar ao máximo separar as duas coisas. Se o que autor escreve é muito bom, porque é que me deveria deixar influenciar pelo facto de ter comportamentos impróprios ou opiniões polémicas de que discordo por completo? Mas a verdade é que me sinto influenciada. Por exemplo, quando aqui há algum tempo soube das acusações de pedofilia da Marion Zimmer Bradley deixei de ter vontade de ler o que quer que fosse de sua autoria no futuro, ainda que admita sem quaisquer problemas que gostei muito de ler As Brumas de Avalon ou Presságio de Fogo, de sua autoria. É como se, por saber que a pessoa que escreveu aquele livro não é decente, a minha empatia se esvaísse por completo e a perspetiva de ler um livro desse autor fosse quase como validar os seus atos ou opiniões.
Não me parece que haja uma resposta definitiva a esta questão; dependerá sempre do leitor. A nível pessoal, tenho muitas dificuldades em separar o autor da respetiva obra. De forma racional e objetiva, reconheço que faria sentido fazê-lo, mas não consigo. Não quer dizer que basta um autor ser simpático para que fique automaticamente interessada nos seus livros, mas sem dúvida que não consigo ficar indiferente a determinados comportamentos ou opiniões e, por esse motivo, perco completamente o interesse ou a vontade de ler os livros desse autor. E vocês, o que acham sobre este assunto?