Opinião: A Luz da Noite | Graham Moore

MooreAutor: Graham Moore
Título Original: The Last Days of Night (2016) 
Editora: Suma de Letras
Páginas: 488
ISBN: 9789896652876
Tradutor: José Remelhe
Origem: Recebido para crítica
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Sinopse: Nova Iorque, 1888. Lâmpadas a gás piscam ainda nas ruas da cidade, mas o milagre da luz elétrica está a nascer. Um jovem advogado sem experiência, Paul Cravath, aceita um caso que parece impossível de ganhar. O cliente de Paul, George Westinghouse, foi processado por Thomas Edison, o inventor da lâmpada elétrica, que defenderá a sua patente com unhas e dentes. Mas, então, quem inventou a lâmpada e detém o direito de iluminar a América? Este caso abre o caminho a Paul para o mundo inebriante da alta sociedade – as brilhantes festas no Gramercy Park Mansions e as relações mais insidiosas feitas à porta fechada. Ao mesmo tempo, coloca-o também no caminho de Nicola Tesla, o excêntrico e brilhante inventor, e de Agnes Huntington, uma cantora de ópera e uma artista impecável tanto dentro como fora de cena. Edison é um astuto e perigoso inimigo com vastos recursos à sua disposição – espiões privados, meios de comunicação do seu lado e o apoio financeiro de J.P. Morgan. Mas este desconhecido advogado partilha com o seu famoso adversário uma compulsão por vencer, custe o que custar. A história fala desta luta, mas Graham Moore, o famoso guionista o oscarizado O Jogo da Imitação, conta-a com tal pormenor que parece que também nós estamos ali, entre fórmulas matemáticas e cabos, nas grandes festas de Nova Iorque, assistindo em exclusivo a um espetáculo onde brilha a luz e a inteligência.

Opinião: Graham Moore tinha sido apresentado aos leitores portugueses com O Homem que Matou Sherlock Holmes, publicado pela Suma de Letras no ano passado. Foi uma leitura bastante interessante, que me deixou curiosa para explorar outras obras deste autor, também conhecido pelo seu trabalho como argumentista para cinema (ganhou inclusivamente um Óscar de Melhor Argumento Original com The Imitation Game). Este seu segundo livro de ficção vinha com excelentes críticas e, pessoalmente, acho fascinante a época e ambiente em que decorre: final do século XIX, nos Estados Unidos, em pleno boom da luz elétrica e luta de patentes entre Thomas Edison e outros conterrâneos.

O protagonista desta história é Paul Cravath, um jovem advogado a quem é incumbida a defesa de George Westinghouse, processado por Thomas Edison pelo suposto fabrico indevido de lâmpadas elétricas, quando a patente lhe pertencia. Mas a dúvida em relação a quem realmente inventou a lâmpada elétrica subsiste, bem como sobre aquilo que a patente registada por Thomas Edison realmente cobre. Enquanto Paul trabalha no caso, trava também conhecimento com o famoso Nikolas Tesla, uma figura conhecida pela sua extravagância e brilhantismo e que poderá, eventualmente, contribuir para a causa que Paul defende.

Penso que o maior desafio num livro deste tipo, que cobre uma época da História tão fervilhante de ideias e de novidades, é transmitir precisamente esse espírito. Pessoalmente, acho que o autor o conseguiu com bastante eficácia. As constantes inovações (e invenções) no que diz respeito à luz elétrica e às suas aplicações práticas são relatadas com algum detalhe, sem que estas descrições alguma vez se tornem demasiado exaustivas ou entediantes; pelo contrário: para uma leiga como eu foram até bastante interessantes. Mas este livro ultrapassa muito as questões técnicas ou legais, abordando também os bastidores da sociedade e o brilho da vida social de outrora. Um aspeto que penso ser importante realçar é o caráter algo sem escrúpulos que Graham Moore decidiu atribuir a Thomas Edison. O famoso inventor assume aqui o papel de “vilão”, mas mais importante que isso penso ser a ideia de que, ainda que tenha tido os seus méritos, não alcançou os seus sucessos sozinho e aproveitou muitas ideias já existentes. 

Penso ser de realçar a nota do autor no final do livro, em que explica que este livro se trata de uma dramatização da história real; alguns dos diálogos ou situações presentes não estão documentados, mas poderiam muito bem ter acontecido. O autor faz também questão de elencar, capítulo a capítulo, e de forma relativamente detalhada, os acontecimentos que de facto tiveram lugar e as alterações que decidiu fazer. Esta componente do livro traz-lhe, sem dúvida, um grande valor acrescentado, na medida em que fornece ao leitor a base histórica do enredo e dá conta do trabalho de pesquisa que o autor teve na sua construção. A título de curiosidade, o autor tem no seu site a linha cronológica do seu livro por comparação com o que aconteceu na realidade.

Então como agora, a vida das pessoas dependia, em grande medida, daquilo que gerava dinheiro. E, por isso, não deixava (tal como não deixa agora) de ser notável aquele grupo de pessoas que não viviam dentro deste círculo e cujas motivações ultrapassavam em muito a obtenção de coisas materiais. O fascínio por essas mentes brilhantes está sempre presente no enredo deste livro. No final de contas, A Luz da Noite retrata fielmente um período muito interessante da história. Quanto a mim, consegue dar vida a importantes personagens históricas e recria com sucesso o espírito inventivo que marcou o final do século XIX. Ao mesmo tempo, aprendi bastante, o que é sempre algo que procuro em romances históricos. Recomendo!

Classificação: 4/5 – Gostei Bastante

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.