Autor: Robert Domes
Título Original: Nebel im August (2008)
Editora: Suma de Letras
Páginas: 336
ISBN: 9789896652913
Tradutor: Helena Topa
Origem: Recebido para crítica
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Opinião: Apesar da perspetiva de ler mais uma história aterradora sobre as atrocidades cometidas durante a 2.ª Guerra Mundial, foi com bastante entusiasmo que parti para esta leitura. Nevoeiro em Agosto prometia abordar o tema do extermínio étnico de um ponto de vista menos habitual, porque para além dos milhões de judeus assassinados, foram também muitos os homossexuais, os comunistas ou os ciganos que sofreram do mesmo destino dos judeus, por motivos que podem ser resumidos numa única palavra: racismo.
O racismo não é uma questão do passado; é uma realidade bem presente se estivermos minimamente atentos à atualidade. Não é preciso ir muito longe: basta que nos recordemos das declarações recentes de um candidato à Câmara Municipal de Loures a propósito da comunidade cigana, e que provam por que motivo livros como Nevoeiro em Agosto continuam a ser necessários, não só como forma de preservar a memória das pessoas inocentes que morreram devido à sua raça, mas também para que continuemos atentos ao futuro e ao ressurgimento de preconceitos e atitudes que julgámos serem parte do passado.
Ernst Lossa nasceu em 1929, no seio da comunidade nómada yeniche, normalmente associada à etnia cigana, mas com cultura e língua próprias. Devido ao nomadismo da sua família, nunca conheceu uma casa fixa e aos 4 anos, devido à doença da sua mãe e às dificuldades financeiras que levaram o seu pai a procurar trabalho longe, Ernst ficou aos cuidados de um orfanato. E foi entre orfanatos e casas de correção que Ernst viveu até aos 14 anos de idade, vagueando entre umas e outras a pretexto do seu comportamento errático, altura em que foi assassinado com uma injeção letal.
Nevoeiro em Agosto é o relato da breve vida de Ernst Lossa, que Robert Domes escreveu com base na documentação a que teve acesso. Todos os acontecimentos importantes do livro são verídicos e a grande maioria das personagens existiu na realidade, tendo o autor tomado alguma liberdade criativa no que respeita aos diálogos, que, contudo, nunca parecem desenquadrados ou demasiado fantasiosos. Para dizer a verdade, tudo parece real – demasiado real. Consegui sentir a solidão, o desamparo e as saudades que Ernst tinha da família, tudo isto enquanto lutava para crescer e sobreviver. Chega a ser angustiante, a tal ponto que damos por nós a torcer para que ele consiga ultrapassar todas as dificuldades, mesmo que já conheçamos o triste final.
E aqui volto ao início: estes livros, que guardam a memória das vítimas do terrível genocídio que decorreu durante a 2.ª Guerra Mundial, são importantes e devem ser lidos e divulgados. Hoje mais do que nunca.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante