Autor: Elan Mastai
Título Original: All Our Wrong Todays (2017)
Editora: Bertrand
Páginas: 384
ISBN: 9789722533461
Tradutor: Ana Lourenço
Origem: Recebido para crítica
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Opinião: Há qualquer coisa de fascinante na hipótese de viajar no tempo. A ideia de voltar atrás a um momento passado e poder fazer as coisas de forma diferente ou de poder rever seres amados que já não estão connosco, bem como de saber o que o futuro nos reserva, são fantasias que ocupam a mente do ser humano desde há muito e, portanto, estas ideias têm sido bastante exploradas no universo da ficção especulativa. Recentemente, li dentro do tema das viagens do tempo e mundos paralelos Matéria Escura ou As Primeiras Quinze Vidas de Harry August, tendo ambos sido leituras muito cativantes e desafiantes intelectualmente, pelo que esperava uma experiência de leitura semelhante quando comecei este Um Mundo de Pernas para o Ar.
Tom Barren, o narrador na primeira pessoa, vive num 2016 completamente diferente do nosso em termos tecnológicos: uma evolução energética ocorrida na década de 1960 permitiu que o mundo não vivesse da escassez de produtos como o petróleo e que, por esse motivo, as pessoas vivessem em paz e com tecnologia muito mais avançada do que aquela que conhecemos atualmente. É um mundo de abundância e maravilhas arquitetónicas, que proporcionam ao ser humano toda a comodidade que poderia desejar. Nesse 2016 alternativo, as viagens no tempo estão prestes a tornar-se realidade com uma visita ao momento decisivo em 1965, quando o Motor Goettreider iniciou a revolução energética, mas a visita de Tom a esse momento no tempo não corre como o esperado e ele vê-se subitamente num 2016 completamente diferente, muito à semelhança do nosso mundo.
Nesta nova realidade, Tom tem um pai que o ama e a mãe não faleceu num terrível acidente; a mulher por quem se apaixonou também ainda está viva e é tudo aquilo que desejaria. Mas Tom sente que está tudo errado e pesa-lhe na consciência todas as pessoas que não vieram a existir devido à sua interferência no passado. Será que há alguma forma de refazer o que desfez?
O enredo de Um Mundo de Pernas para o Ar vive da importância que as ações aparentemente mais insignificantes podem ter no desenrolar da nossa vida e como cada uma das decisões que tomamos importam. Quando Elan Mastai afirma que “a vida que devíamos ter é coisa que não existe“, traz ao de cima o poder da aceitação (não de conformismo) com a vida que temos e a serenidade que está aliada a esse facto. Este livro fez-me refletir sobre imensas coisas, mas esta foi sem dúvida a mais relevante.
O livro que temos em mãos é ele próprio parte da narrativa e uma espécie de conjunto de memórias de Tom Barren, uma voz muito cativante, repleta de apontamentos de humor, a que o autor conseguiu dar uma autenticidade notável. Diria que este foi, provavelmente, o que mais me cativou no livro. Os capítulos curtos são um convite ao rápido virar de páginas e as possibilidades da história uma fonte constante de interesse. Sem ser um livro completamente original, é divertido, bem escrito e cientificamente bem explorado, sem que esta componente se torne demasiado exaustiva. Gostei muito e recomendo.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante