Estreou anteontem a sétima e penúltima temporada da série televisiva Game of Thrones, que adapta os livros de fantasia do autor norte-americano George R.R. Martin – ou, pelo menos, fê-lo até certo ponto, porque os eventos narrados nos livros já foram ultrapassados pelos eventos da série desde a temporada passada. Desde que a série estreou, em 2011 (ano em que saiu o quinto volume) que se especulava sobre o ritmo de publicação e a possibilidade de a história narrada nos livros ser ultrapassada pelo avançar da série, uma vez que se previa uma temporada por ano, isto assumindo que cada livro corresponderia, grosso modo, a uma temporada – ainda que o quarto e quinto livros decorram mais ou menos em simultâneo em termos cronológicos.
Eu adorei a ideia da série televisiva e fiquei ainda mais contente quando percebi que a primeira temporada era não só extremamente fiel aos livros, como tinha excelentes atores e uma produção cuidada. Escrevi sobre isso na altura. Passou-se a segunda temporada e gostei, apesar de ter notado uma diminuição no meu entusiasmo, principalmente porque comecei a detetar alguns desvios face à história original que não me agradaram lá muito. Da terceira temporada só vi dois ou três episódios até ter percebido que a série estava a estragar-me a história.
Eu apaixonei-me pelas Crónicas de Gelo e Fogo que conheci nos livros e pelas personagens que George R.R. Martin criou. A minha personagem preferida dos livros, Jon Snow, cujo encanto reside, em grande parte, naquilo que guarda dentro de si, ficou mesmo muito aquém na série. Não conseguiram captar, de todo, a sua essência – pelo menos até onde vi. A dada altura, percebi que ver a série estava a influenciar negativamente a perceção que tinha da história e por isso decidi parar. Tenho lido grandes elogios à série depois disso e confesso que já por algumas vezes me senti tentada a retomar, mas quando soube que o enredo da série iria ultrapassar o que já é conhecido dos livros decidi definitivamente que não queria ver.
Isto leva-me ao facto de estar há seis longos anos à espera que George R.R. Martin publique o sexto (e penúltimo, até ver) livro da série. Concordo com todos os artigos de opinião que tenho lido ao longo destes anos acerca de nos devermos sentir gratos pela história que o autor nos ofereceu e que o seu ritmo de escrita deve ser respeitado. Não me sinto no direito de o julgar ou de o mandar ir escrever em vez de se dedicar aos seus mil e um outros projetos (a não ser na brincadeira, claro), mas não consigo esconder a profunda desilusão que sinto pelo facto de que quem vê a série ter oportunidade de conhecer em primeira mão o desfecho de uma história que deveria ser concluída onde foi começada: nos livros. Ainda que o autor e as pessoas envolvidas na série afirmem que há diferenças consideráveis entre livros e série, não acredito que o destino das personagens principais e os contornos dos principais eventos se alterem grandemente, o que só adensa ainda mais a minha frustração.
Concordo plenamente com o que se afirma no artigo do Observador, relativamente ao facto de haver “um contrato implícito entre o escritor e o leitor”. A verdade é que o leitor está a dar o seu dinheiro e a gastar o seu tempo, esperando que a série tenha uma conclusão, quando neste caso nem sabemos quando (ou se) irá chegar. É uma questão complexa, claro, mas no meu papel de leitora não consigo deixar de me sentir extremamente frustrada.
Por tudo isto, permitam-me fugir do entusiasmo que vejo por estes dias nas redes sociais relativamente ao regresso da série. Não vejo nem quero saber. Cá continuarei a aguardar, pacientemente, que os livros que faltam sejam publicados.