Opinião: Prisioneiros Portugueses da Primeira Guerra Mundial: frente europeia, 1917/1918 | Maria José Oliveira

OliveiraAutor: Maria José Oliveira
Ano de Publicação:
 2017
Editora: Saída de Emergência
Páginas: 256
ISBN: 9789897730221
Origem: Recebido para crítica
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Sinopse: Foi a decisão política mais relevante da I República, realizada sem consulta popular ou qualquer explicação ao país. As consequências foram trágicas: para a população, para os combatentes e para o próprio regime, que começou a definhar com a entrada de Portugal na Grande Guerra. Entre 1917 e 1918, mais de 50 mil homens partiram para as trincheiras da Frente Ocidental. A maioria nunca saíra das suas aldeias e vilas. Morreram milhares; outros tantos foram feitos prisioneiros e enclausurados em campos de internamento e de trabalhos forçados na Alemanha, França, Bélgica e Polónia. Morreram 260 expedicionários portugueses nesses cativeiros – o número resulta de uma nova contagem feita a partir do cruzamento de fundos documentais, publicando-se aqui a lista dos mortos, juntamente com informações biográficas e militares. Na historiografia nacional e internacional sobre a Primeira Guerra Mundial, a história dos prisioneiros de guerra continua a ocupar um lugar ensombrado. A publicação de documentação inédita, entre a qual correspondência censurada, e a evocação dos dias de cárcere destes homens procuram dissipar essa sombra, atribuindo-lhes a justiça possível: a memória.

Opinião: Sou fã da História do século XX. As Guerras Mundiais foram os dois eventos principais, mas a verdade é que tenho lido muito mais extensamente sobre a Segunda do que sobre a Primeira. Quando tive conhecimento que este Prisioneiros Portugueses da Primeira Guerra Mundial iria ser publicado, fiquei imediatamente interessada, porque ainda li menos coisas sobre a participação portuguesa neste primeiro conflito mundial do que sobre o acontecimento em si, e aprender sobre a História do meu país é sempre positivo. 

O avô de Maria José Oliveira, António Lourenço, foi um dos milhares prisioneiros de guerra portugueses que estiveram em campos de internamento, e, à semelhança de tantos outros, foi dado como morto. A família chegou mesmo a fazer-lhe um funeral sem corpo presente, para mais tarde descobrir que, afinal, ainda estava vivo. Esta história, que dá o mote ao livro, é o início deste trabalho de investigação, que junta ao rigor e pesquisa evidentes a preocupação com mostrar o lado humano dos factos que apresenta.

A participação portuguesa na guerra é devidamente contextualizada e expõem-se factos interessantíssimos sobre a cobertura enviesada da imprensa à data, não só com mentiras sobre as várias fases da participação na Guerra, mas principalmente com omissões. Fiquei a saber que, para Portugal, a Guerra não decorreu só na Europa, mas também em África, quando teve de mandar tropas em 1914 para defender as colónias de ataques alemães – algo que desconhecia por completo.

Mas o grande objetivo do livro, penso, era mostrar-nos a vida e o destino dos prisioneiros de guerra portugueses, e isso a autora faz extensamente através da transcrição de cartas até à data desconhecidas e que, na maioria dos casos, não chegaram ao seu destino devido à censura, tendo sido recuperadas pela autora nos arquivos da Cruz Vermelha Portuguesa e do Comité de Lausanne (Comité de Socorros aos Militares e Civis Portugueses Prisioneiros de Guerra, fundada pela comunidade portuguesa na Suíça). A presença destas cartas no livro concede-lhe uma dimensão humana e emocional fundamental para a compreensão do que estas pessoas viveram e para a aproximação do leitor às suas experiências de vida, sendo-lhe difícil ficar indiferente aos comuns finais infelizes. Notável é, também, o levantamento minucioso da identidade dos 259 prisioneiros portugueses que perderam a vida nos campos de internamento alemães.

Em suma, Prisioneiros Portugueses da Primeira Guerra Mundial é um livro muito interessante e bem documentado, que praticamente 100 anos depois devolve à memória histórias perdidas, enquanto apresenta um trabalho de investigação de relevo. Recomendo.

Classificação: 4/5 – Gostei Bastante

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.