Autor: Sara Nović
Título Original: Girl at War (2015)
Editora: Minotauro
Páginas: 232
ISBN: 9789899978560
Tradutor: Rita Carvalho e Guerra
Origem: Recebido para crítica
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Nova Iorque, 2001. Ana é agora uma estudante universitária em Manhattan. Apesar de todas as tentativas para deixar o passado para trás, não consegue escapar às recordações de guerra e aos segredos que guarda até dos que lhe são mais próximos. Perseguida pelos acontecimentos que lhe roubaram a família para sempre, regressa à Croácia depois de uma década de ausência, na esperança de fazer as pazes com o lugar a que um dia chamou casa. Enquanto enfrenta o passado, procura reconciliar-se com a história difícil do seu país e com os acontecimentos que lhe interromperam a infância, há tantos anos.
Opinião: Tenho muito poucas recordações da Guerra da Independência da Croácia, país que viu reconhecida a sua independência em 1992, depois de várias décadas integrado na antiga Jugoslávia. Era ainda uma criança nessa altura, com os interesses pouco voltados para situações de conflito por esse mundo fora. Ana, a criança croata protagonista deste livro, não teve a mesma sorte que eu.
Corria o ano de 1991 e Ana vivia com a sua família em Zagreb. A sua infância era uma infância normal para uma criança nascida nos anos 1980 que vivia ainda num país marcado pelo comunismo. No verão desse ano, os focos de guerra foram-se alastrando pelo país, enquanto Zagreb vivia uma relativa acalmia, perturbada pelas sirenes antiaéreas, que obrigavam a população a retirar-se para os seus abrigos. Para Ana e os seus amigos, as mudanças trazidas pela guerra não eram encaradas como entraves, eram antes integradas nas brincadeiras com o natural poder adaptativo das crianças.
Quando Ana e a sua família se vêm obrigados a sair de Zagreb em busca de cuidados de saúde para a pequena Rahela, as coisas acabam por não correr como o esperado. A história, narrada sob o ponto de vista de Ana, avança dez anos e o leitor vai encontrá-la em Nova Iorque, notoriamente marcada pelo que aconteceu no seu passado na Croácia. A narrativa vai, deste modo, alternando entre as duas linhas temporais, deixando no leitor a curiosidade para saber o que realmente aconteceu no passado e que moldou a Ana que encontramos no presente.
Mais do que um livro sobre uma das guerras dos Balcãs, penso que Rapariga em Guerra é um relato íntimo das marcas profundas que a guerra pode provocar na vida de alguém, e das ínfimas formas como se pode (ou não) aprender a viver com elas. Os acontecimentos históricos e políticos que rodeiam Ana não são detalhadamente explorados, dando antes ao leitor um ponto de partida para eventuais pesquisas; foi o que fiz, e depois disso senti-me muito mais rica.
Sara Nović tem um estilo de escrita contido, que funciona muito bem com os acontecimentos traumáticos que marcam a vida da protagonista e também com as opções narrativas que faz a nível de alternância temporal do enredo.
Rapariga em Guerra é, sem dúvida, uma excelente estreia desta jovem autora e deixa muita vontade de saber o que nos trará no futuro. Recomendo!
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante