Opinião: O Poder das Pequenas Coisas | Jodi Picoult

JodiAutor: Jodi Picoult
Título Original:
 Small Great Things (2016)
Editora: Editorial Presença
Páginas: 512
ISBN: 9789722359788
Tradutor: Manuela Madureira
Origem: Recebido para crítica
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Sinopse: Ruth Jefferson é uma enfermeira obstetra com mais de vinte anos de experiência. Um dia, durante o seu turno, começa uma avaliação de rotina a um recém-nascido. Minutos depois é informada de que lhe foi atribuído outro paciente. Os pais do bebé são supremacistas brancos e não querem que Ruth, afro-americana, toque no seu filho. O hospital acede a esta exigência, mas no dia seguinte o bebé enfrenta complicações cardíacas. Ruth está sozinha na enfermaria. Deve ela cumprir as ordens que lhe foram dadas ou intervir? O que se segue altera a vida de todos os intervenientes e põe em causa a imagem que têm uns dos outros. Com uma empatia, inteligência e simplicidade notáveis, Jodi Picoult aborda temas como a raça, o privilégio, o preconceito, a injustiça e a compaixão num livro magistral sem respostas fáceis.

Opinião: Jodi Picoult já se tornou uma aposta segura para mim. A cada livro que leio dela (e ainda tenho tanto por descobrir!) fico fascinada com a capacidade que tem para pôr os seus leitores a questionar as próprias convicções, oferecendo-nos não respostas mas caminhos para lá chegar. Desta vez, com O Poder das Pequenas Coisas, a autora pega no complexo tema do racismo; nas notas finais, Jodi Picoult confessa que era um tema sobre o qual queria escrever há bastante tempo, mas nunca se sentiu capacitada para tal. Quando soube de um caso de uma enfermeira negra com muitos anos de experiência e cujos serviços foram recusados devido à cor da sua pele, a autora sentiu que tinha chegado a hora.

Ruth Jefferson é uma enfermeira negra com mais de 20 anos de experiência na área da ginecologia-obstetrícia, tendo decidido desde tenra idade que trabalhar com mães e recém-nascidos era o seu desígnio. A história inicia-se quando o casal Bauer tem o seu filho na maternidade onde Ruth trabalha e recusa terminantemente que ela possa desempenhar as suas funções devido à cor da pele. Pouco tempo depois, o bebé tem complicações cardíacas, acabando por falecer, e Ruth vê-se perante acusações de homicídio por neglicência, uma vez que estava presente quando tudo aconteceu.

A narrativa vai avançando através do ponto de vista de três personagens: Ruth, Turk (o pai do bebé) e Kennedy (a advogada de Ruth). Estas três perspetivas têm a vantagem de dar ao leitor uma visão sobre os problemas e dilemas destas três personagens, tão diferentes mas igualmente importantes na história. Turk, o supremacista branco, é alguém com quem dificilmente o leitor simpatizará, mas que ainda assim é apresentado de forma coerente e fundamentada, nunca parecendo uma personagem caricatural, mas antes real. Estes capítulos são uma excelente oportunidade de conhecer um pouco do funcionamento dos grupos de supremacistas brancos, skinheads ou neo-nazis, e permitiu-me tomar contacto com uma realidade que, ainda que com pouca expressão em Portugal, são uma realidade em ascensão nos Estados Unidos da América, atualmente com um novo ímpeto pela eleição de Donald Trump.

Os capítulos de Kennedy são também extremamente interessantes, porque retratam algo para o qual Jodi Picoult quis chamar a atenção: as pessoas brancas, ainda que se assumam como não-racistas, possuem algo de racista em si, mesmo que não se apercebam disso. Pessoalmente, fez-me refletir e perceber que a autora tem razão. O facto de ter nascido branca nunca me deixou perceber os problemas que as pessoas negras enfrentam diariamente, e apesar de ser completamente contra qualquer tipo de discriminação racial, sinto que tenho ainda muito espaço para a compreensão e a solidariedade.

Ruth é uma personagem fantástica, que evolui de uma forma incrível ao longo deste livro. Passa de alguém que luta para ser reconhecida independentemente da sua raça, achando para isso que tem de se afastar das suas raízes, para uma mulher que “descobre” quem é e que faz o que está certo, ainda que isso a possa prejudicar pessoalmente. Jodi Picoult consegue, mais uma vez, entrelaçar todos estes pontos de vista de uma forma tão bem conseguida, que não conseguimos parar de ler para saber qual será o desfecho de toda a história.

Em jeito de resumo, encontrei em O Poder das Pequenas Coisas um livro que me emocionou e que me fez questionar e refletir sobre a forma como vejo e penso acerca deste mundo em que vivo. São livros como este que procuro na viagem constante que é a leitura. Recomendadíssimo.

Classificação: 5/5 – Adorei

Nota: Para mais informações sobre O Poder das Pequenas Coisas, clica aqui.

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.