Há uns dias, li um artigo que argumentava que se durante um ano inteiro abdicássemos por completo das redes sociais conseguiríamos ler 200 livros nesse período de tempo. As contas o autor do artigo faz baseiam-se na assunção que uma pessoa consegue, em média, ler entre 200 a 400 palavras por minuto e que os livros que contribuiriam para o total de 200 rondariam as 50.000 palavras. Ora, esse total de livros teriam 10 milhões de palavras, que poderiam ser lidas em 25.000 minutos, ou seja, 417 horas. Dividindo essas horas por 365 dias, o total exigiria 1h08 minutos de leitura por dia. Naquele artigo, o autor refere que o norte-americano médio passa 608 horas por ano nas redes sociais e 1642 horas a ver televisão. Dá para perceber facilmente onde ele que chegar.
Ok, talvez a grande parte dos leitores (especialmente os que se dedicam maioritariamente à ficção, como eu) não leiam livros só com 50.000 palavras e o mais certo é que certos livros exijam um nível de concentração que não permita a leitura de tantas palavras por minuto. Por outro lado, considero que as redes sociais não são tempo completamente perdido; pessoalmente, têm sido um instrumento fundamental para um consumo consciente e crítico de informação, que me ajuda a pensar por mim própria. Por isso, acho que o artigo em causa simplifica demasiado para conseguir marcar uma posição, colocando a questão demasiado a preto e branco; mas a ideia de fundo está correta: “falta de tempo” não é uma desculpa válida para não ler.
Amiúde, recebo aqui no blogue ou nas redes sociais onde vou partilhando as minhas leituras comentários de pessoas incrédulas com a quantidade de livros que leio. Alguns roçam a má educação (já chegaram a pôr em causa se de facto lia mesmo tudo o que dizia que lia), mas a maioria resultam do facto de o comentador achar que uma vida “normal”, com trabalho e família, não se coaduna com muito tempo de leitura e, por isso, ler 8, 9 ou mesmo 10 livros num mês parece uma tarefa impossível. Meus caros, não é. Eu trabalho, tenho família e um filho de 4 anos que exige a atenção que podem imaginar. Então quando é que arranjo tempo para ler? Aproveito todos os tempos livres que tenho. À noite, quando a criança está entretida com outra coisa ou quando já está a dormir; de dia, quando tenho um pouco de tempo livre (hora de almoço, filas, etc.). Tenho visto poucos filmes e séries, não porque não goste, mas porque não tenho tempo para tudo e prefiro ocupar o que tenho disponível a ler. Portanto, o tempo para ler, muito ou pouco, existe sempre. Cabe a cada um de nós decidir o que fazemos com ele.