Autor: Péter Gárdos
Título Original: Hajnali láz (2010)
Editora: Alfaguara
Páginas: 223
ISBN: 9789896650339
Tradutor: Piroska Felkai
Origem: Recebido para crítica
Comprar aqui (link afiliado)
Opinião: Quando a mãe de Péter Gárdos, realizador húngaro de 68 anos, lhe entregou um conjunto de cartas que havia trocado com o falecido marido e pai de Péter, ele não imaginava a riqueza que estava prestes a descobrir. As cartas contavam a história de como os dois se conheceram e apaixonaram, mas não só; eram também o registo das vicissitudes por que muitos húngaros judeus passaram no pós-Segunda Guerra Mundial. Apesar de se terem mantido guardadas e intocadas ao longo de décadas, Péter Gárdos achou que continham uma história que merecia ser contada e o que inicialmente começou por ser um guião para um filme, acabou por se transformar num romance, o primeiro do autor.

Carta à mulher do meu futuro conta então a história dos pais do autor, desde a altura em que Miklós chegou à Suécia após o final da Segunda Guerra Mundial, bastante debilitado, após ter estado no campo de concentração de Bergen-Belsen. Devido a problemas pulmonares, não lhe são dados mais do que seis meses de vida, mas ao invés de desesperar, Miklós decide viver o pouco tempo que lhe resta correspondendo-se com mulheres húngaras que também se encontravam na Suécia, em hospitais ou campos de refugiados. Das respostas obtidas, é com Lili que Miklós mais gosta de trocar cartas e a relação dos dois desenvolve-se ao ponto de os dois se apaixonarem e desejarem conhecer-se pessoalmente.
Para além da história de amor central e das peripécias que a acompanham, Péter Gárdos dá ao leitor várias pistas para compreendermos a realidade dos judeus húngaros naquela época. O Holocausto é uma força invisível que marca a sua presença, pelas marcas que deixou nos protagonistas, ainda que não seja, de todo, o foco deste livro. Mas por todo o estigma de ser-se judeu, Lili e Miklós chegaram a considerar converter-se ao catolicismo.
Pelo meio do relato da história dos dois, encontram-se excertos reais e intocados das palavras que trocaram por correspondência. A história que falta foi produzida pelo autor, com ajuda das recordações da mãe ou de deduções/reinvenções da sua parte, sendo o resultado final de tom jornalístico e algo condensado – o que provavelmente tem a ver com a faceta de guionista/realizador de Péter Gárdos. A história aqui contada é muito bonita e, por isso, pareceu-me que teria merecido um tratamento mais literário, o que eventualmente resultaria num texto ao qual o leitor se sentisse mais ligado a nível emocional.
Ainda que considere que existem algumas falhas na forma que o autor escolheu para contar esta história, é inegável que merece ser contada e dada a conhecer ao mundo. A Segunda Guerra Mundial e o Holocausto influenciaram a vida de tantas pessoas, de tantas e variadas formas, que continua a ser de extrema importância conhecê-las e recordá-las. Só por isso já vale a pena.
Classificação: 3/5 – Gostei