Autor: Thomas Mann
Título Original: Der Zauberberg (1924)
Editora: Dom Quixote
Páginas: 832
ISBN: 9789722037327
Tradutor: Gilda Lopes Encarnação
Origem: Comprado
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Opinião: Demorei algum tempo a começar a escrever esta opinião, pelo simples facto de que acho que, por mais que diga, as palavras nunca serão suficientes para fazer jus à magnitude de A Montanha Mágica e ao que esta leitura significou para mim. De qualquer modo, vou tentar. Comprei o e-book no ano passado, numa promoção, e em janeiro decidi começar a lê-lo. No fim do maravilhoso preâmbulo e do primeiro capítulo, percebi que tinha de ter o livro físico e fiz uma coisa que nunca tinha feito num livro de ficção, que foi sublinhar e colocar um post-it em todas as passagens que me disseram alguma coisa. Começou por ser algo estranho fazê-lo, mas depois acabei por sentir que estava a deixar no meu livro marcas da minha leitura, deixando pistas para uma eventual releitura… e soube-me muito bem.
A Montanha Mágica será, porventura, o livro mais conhecido de Thomas Mann e terá sido fundamental para a atribuição do Prémio Nobel em 1929. A história é a do jovem Hans Castorp que, no início do livro, se desloca a um sanatório de tratamento de doenças pulmonares, nos Alpes suíços, para visitar o primo que se encontrava a recuperar de uma tuberculose. Esta visita tinha a duração inicial programada de três semanas, mas a sua saúde frágil obriga-o a prolongar a estadia que se estende de semanas a meses e de meses a anos.
Ao longo do tempo que Hans Castorp passa no sanatório, muitas são as pessoas que se cruzam no seu caminho, sendo aquele local um reflexo, em pequena escala, da população europeia na época em que a história se situa – a década que antecedeu a Primeira Guerra Mundial. A resistência em relação à montanha e às pessoas que habitam o sanatório que Hans demonstra inicialmente começa, aos poucos, a desvanecer-se, quando ele percebe que a natureza contemplativa e refletiva da sua estadia se compadece, por inteiro, com a sua recém descoberta forma de encarar o mundo e a vida.
Várias são as personagens que rodeiam Hans e lhe deixam marcas, mas as mais importantes serão, provavelmente, Ludovico Settembrini e Clawdia Chauchat. Settembrini, descrito amiúde como pedagogo, é um humanista filósofo que defende com unhas e dentes os direitos humanos e a democracia e que tem extensos diálogos com Hans, ajudando-a a pensar na vida de uma forma diferente. Mais à frente na história, Settembrini encontra o que poderemos apelidar da sua némesis na figura de Leo Naphta, outra pessoa cheia de sabedoria mas com ideias completamente opostas às suas. Este confronto dá origem a diálogos longos, com potencial para vencer o leitor mais incauto, mas que, em última análise, consistem numa troca de galhardetes escrita de forma notável. Clawdia Chauchat, o interesse romântico de Hans, é uma jovem de origem russa que ele começa por não gostar pela forma rude como bate com a porta do salão onde decorrem as refeições, mas acaba por sucimbir aos seus encantos, à semelhança do que acontece com a montanha.
Os temas que atravessam o livro são os mais diversos, mas diria que o tempo e a noção subjetiva que o ser humano tem dele são os mais explorados. As reflexões de Thomas Mann sobre o tempo são hipnotizantes, não só porque fazem todo o sentido e estão incrivelmente bem escritas (como todo o livro, aliás), mas também porque estas reflexões são normalmente feitas por um narrador omnisciente, dotado de um humor refinado e observações acutilantes.
Há quem diga que este livro não tem enredo e, ainda que não concorde totalmente com esta ideia, tenho de admitir que em boa parte do livro parece que nada acontece. Isto não é necessariamente mau, se o leitor estiver para aí virado – como eu claramente estava. Fico com a sensação que foi A Montanha Mágica que me escolheu e não o contrário, porque é inegável que o li na altura certa. Um livro marcante, sem dúvida, e para guardar na prateleira dos favoritos.
Classificação: 5/5 – Adorei