Autor: Hannah Kent
Título Original: Burial Rites (2013)
Editora: Saída de Emergência
Páginas: 303
ISBN: 9789896377366
Tradutor: Fernanda Semedo
Origem: Comprado
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Na agreste paisagem islandesa, Hannah Kent traz à luz dos nossos dias a história de Agnes que, acusada do brutal assassínio do seu anterior amo, é enviada para uma quinta isolada enquanto aguarda a sua hora final.
Apavorados com a perspetiva de virem a albergar uma assassina, a família que a acolhe evita Agnes nas primeiras abordagens. Apenas Tóti, um padre designado para acompanhar Agnes nesta última caminhada e ser o seu guardião espiritual, procura compreendê-la.
Mas assim que a data da morte de Agnes se avizinha, a mulher e filhas do lavrador descobrem que há uma segunda versão para a história brutal que ouviram.
Fascinante e lírica, Últimos Ritos evoca uma existência dramática num tempo e espaço distantes, dirigindo-nos a enigmática pergunta: como pode uma mulher suportar a mágoa e a injustiça quando a sua vida depende das histórias contadas pelos outros?
Opinião: Em 2002, a jovem australiana Hannah Kent decidiu participar num intercâmbio de estudantes com a duração de 12 meses na distante Islândia. Numa viagem ao norte do país, visitou o local de execução da última pessoa islandesa a ter sido condenada com a pena capital: Agnes Magnúsdóttir, em 1830. Esse foi o início de um interesse pelo caso e pela personagem que durou anos e que levou a autora a investigar arquivos e registos de vária espécie, de onde obteve informação real sobre as personagens envolvidas. Essa informação serviu de base à escrita de Últimos Ritos, sendo que várias cartas e documentos apresentados no início dos capítulos do livro foram traduzidos ou adaptados a partir dos originais.
Agnes Magnúsdóttir era uma mulher na casa dos 30 que servia em quintas, fazendo trabalho de vária espécie, quando foi condenada à pena de morte por decapitação pelo assassinato de dois homens, juntamente com o jovem Friðrik Sigurðsson. Até à data da execução, Agnes teve de permanecer aos cuidados de um dos xerifes da zona, sendo alojada na casa deste e da sua família. O que Últimos Ritos faz é contar-nos o que aconteceu no período de tempo em que Agnes esteve naquela casa, alternando secções na primeira pessoa, do ponto de vista de Agnes, e na terceira pessoa, onde podemos conhecer melhor os pensamentos e ações das pessoas que a rodeavam.
De acordo com as minhas pesquisas, Agnes é retratada na literatura islandesa como uma assassina de sangue frio, mas a imagem que passa depois de lido Últimos Ritos é algo diferente. Hannah Kent quis fazer um retrato mais ambíguo da personagem e explorar as suas contradições e, por isso, oferece-nos uma personagem rica, complexa e humana. O leitor já sabe, à partida, qual será o fim de Agnes, mas o desenlace da história acaba por não ser o mais importante: somos cativados pela narrativa dos acontecimentos que levaram àquele final e movidos pela curiosidade de conhecer os contornos do crime.
Outro aspeto que me agradou bastante foi a caracterização do contexto; a pesquisa de que falei inicialmente é visível na forma como Hannah Kent descreve o espaço físico que rodeia as personagens e a forma como o clima austero influencia a vida das pessoas. As descrições vívidas do modo de vida islandês em meados do século XIX são uma contribuição fundamental para que este livro se torne uma leitura com impacto. Não será um livro brilhante em todos os aspetos, mas é sem dúvida uma leitura recompensadora e muito interessante. Recomendo.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante