Autor: Michel Houellebecq
Título Original: Soumission (2015)
Editora: Alfaguara
Páginas: 264
ISBN: 9789898775276
Tradutor: Carlos Vieira da Silva
Origem: Empréstimo
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Opinião: Submissão foi a minha estreia com o famoso escritor francês Michel Houellebecq. Ouvi falar deste livro na Roda dos Livros e fiquei interessada não só pela premissa, mas também por aparentemente ser um livro tudo menos consensual. Estou numa fase em que preciso de livros que me desafiem e este pareceu-me, sem dúvida, uma boa opção.
Michel Houellebecq faz neste livro um exercício de futurismo próximo, com grande pendor político-religioso. Estamos na França de 2022 e as eleições presidenciais aproximam-se. Pela primeira vez em muito tempo, a dicotomia desgastada centro-esquerda/centro-direita está ameaçada e, nesse contexto, surge a Fraternidade Muçulmana, que parece uma alternativa credível ao extremismo da Frente Nacional de Marine Le Pen. E é assim que a Fraternidade Muçulmana consegue eleger o Presidente da República e profundas mudanças começam a surgir na sociedade francesa, nomeadamente na educação e na forma como as mulheres são tratadas.
Tudo isto nos é narrado na perspetiva de François, um professor universitário quase na meia-idade, solitário, que chegou a uma fase na vida em que questiona o seu sucesso profissional e pessoal. Esta fragilidade de François, e o conturbado contexto político e social, levam-no durante um período ao interior do país, para posteriormente regressar a uma Paris bastante diferente daquela que deixou. O contacto com algumas pessoas que lhe explicam (e ao leitor) mais sobre a filosofia de vida de quem então manda no país convida a um reflexão profunda sobre os valores da liberdade e da democracia e de como tudo isto é afetado pela religião.
Submissão é um livro com ideias fortes e que, tendo em conta o contexto atual a nível político e social, não me parece assim tão descabido. Muito se fala na decadência dos valores das sociedades ocidentais e na forma como tudo isto desiludiu – e continua a desiludir – o povo. Haverá quem diga que o domínio da cultura islâmica num país tão firmemente ligado aos ideais da liberdade é uma possibilidade remota e que a aceitação de tudo isto da parte das mulheres é impossível – e eu concordo. Mas a História também nos mostra que muitas coisas que pareciam improváveis aconteceram e este exerício de Houellebecq pareceu-me assustadoramente realista. Julgo que é neste ponto que reside o maior trunfo de Submissão.
O que falha neste livro, quanto a mim, é a excessiva importância que o autor dá a uma personagem desinteressante, que acaba por ocupar espaço que poderia ter sido utilizado de forma mais proveitosa na construção do contexto social que Houellebecq aqui nos apresenta. François “perde-se” entre encontros amorosos inúteis (para ele e para o enredo) e viagens que parecem não levar a lado nenhum, com algumas reflexões pelo meio sobre o seu grande objeto de estudo, o escritor do século XIX Joris-Karl Huysmans. Se é certo que é um livro bastante rico em referências literárias, e com algumas reflexões interessantes nesse contexto, tudo isto parece contribuir pouco para as questões verdadeiramente importantes do livro. Fiquei com a sensação que Michel Houellebecq tem capacidade para fazer muito melhor.
Em suma, e de um modo geral, achei Submissão um livro intelectualmente desafiante, mas que se perde em divagações que não lhe acrescentam muito. Fico, contudo, com muita vontade de conhecer mais da obra deste autor.
Classificação: 3/5 – Gostei