Opinião: Sem Dor Nenhuma, de Richard Yates (Onze Tipos de Solidão)

Ser Dor Nenhuma é um título curioso para um conto onde a dor é um elemento constantemente presente. Myra prepara-se para a visita semanal ao seu marido enfermo, que se encontra há tempo indeterminado a recuperar de uma tuberculose no hospital. A narrativa inicia-se dentro de um carro e também é dentro dela que termina, no qual Myra está acompanhada por um casal amigo e por Jack, o seu namorado. A porta do hospital é também a porta que separa a vida que ela tem dentro daquele carro – e a que se adivinha que vive no dia-a-dia – da vida que viveu outrora, com o seu marido Harry, quando este era um militar bem-parecido e cativante.

A visita é dolorosa, de várias formas. O alheamento entre os dois e o mal-disfarçado parco interesse de Harry pela sua esposa são palpáveis e angustiantes. Ele, já algo confortável na situação em que se encontra, parece conviver bem com a sua solidão; ela, ainda a sofrer pelo que podia ter sido, parece querer agarrar-se a uma qualquer réstia de esperança para os dois, ainda que a realidade lhe mostre um cenário bem diferente.

Richard Yates é perito na descrição dos sonhos desfeitos e da desilusão e, neste caso em concreto, fá-lo de uma forma ainda mais brilhante pela quantidade de emoções que consegue transmitir em apenas 12 páginas. Muito, muito bom.

Classificação: 5/5 – Adorei

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.