Opinião: Doutor Chacal, de Richard Yates (Onze Tipos de Solidão)

Doutor Chacal é o primeiro dos onze contos incluídos na coletânea Onze Tipos de Solidão, publicada originalmente em 1962 pelo norte-americano Richard Yates. Esta primeira história acompanha a entrada de Vincent Sabella numa nova escola, agora que vive com uma família de acolhimento depois de vários anos num orfanato.

Essencialmente sob a perspetiva da professora que o recebe, Miss Price, assistimos a todas as dificuldades que Vincent sofre na pele naquele período de adaptação inicial. Mal vestido, fisicamente pouco atraente e com capacidades aparentemente básicas, confronta-se não com uma hostilidade direta mas com uma rejeição de certo modo natural, que ele se esforça por debelar. Richard Yates foge da previsibilidade da empatia com este inadaptado, e para isso muito contribui, julgo eu, que nunca vejamos as coisas da sua perspetiva. Aliás, o leitor entra muito mais na cabeça de Miss Price, a professora, do que na de Vincent. 

Pegando no título desta coletânea de contos, o tipo de solidão aqui presente é aquele que muitos conhecem na fase da infância/adolescência, quando ainda não conseguimos julgar com maturidade o alcance das coisas que fazemos para sermos aceites. O desejo de pertença é um tema central neste conto e a questão que levanta, penso eu, é até que ponto estamos dispostos a ir para sentirmos que fazemos parte de um grupo. 

Sem ter achado um conto extraordinário, gostei e penso que é uma boa abertura para este livro.

Classificação: 3/5 – Gostei

mae-billboard

Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.