Opinião: A doença, o sofrimento e a morte entram num bar | Ricardo Araújo Pereira

AraújoAutor: Ricardo Araújo Pereira
Ano de Publicação:
 2016
Editora: Tinta da China
Páginas: 112
ISBN: 9789896713539
Origem: Comprado
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Sinopse: O que faz de Ricardo Araújo Pereira o maior humorista português? Já não é preciso esperar mais para saber (e aprender) o que RAP tem a dizer sobre escrita de humor. Podíamos fazer uma piada sobre a importância deste livro, mas o melhor é mesmo lê-lo. «Aquilo a que chamamos humor, ou sentido de humor, é, na verdade, um modo especial de olhar para as coisas e de pensar sobre elas. É raro, não por se tratar de um dom oferecido apenas a alguns eleitos, mas porque aquele modo de olhar e de raciocinar é muito diferente (às vezes, o oposto) do convencional. Este livro procura identificar e discutir algumas características dessa maneira de ver e pensar.» 

Opinião: Sempre gostei muito – e continuo a gostar – de Ricardo Araújo Pereira. Desde que apareceu no quarteto Gato Fedorento que tenho vindo a acompanhar a sua carreira, reconhecendo-lhe uma graça inata e uma capacidade singular de dizer as piadas certas na altura certa, a que junta uma inteligência notável, certamente sustentada pela sua vastíssima cultura literária (um aparte: imperdível a edição do Biblioteca de Bolso em que é o convidado). Sei que já tem vários livros de crónicas publicados, mas curiosamente nunca li nenhum. Com A doença, o sofrimento e a morte entram num bar a promessa era a de um registo diferente, e a minha curiosidade subiu a pique.

Na verdade esta “espécie de manual de escrita humorística“, como o autor lhe chama, é um ensaio teórico sobre as bases do humor, que surpreendem o leitor incauto em relação à imprevisibilidade e à qualidade por vezes pouco inata do mesmo. Estamos habituados a considerar que este é uma característica que nasce com alguém, mas normalmente ignoramos que pode ser trabalhado e que tem bases teóricas. Julgo que a chamada de atenção para esse facto é o principal mérito deste pequeno livro.

Ricardo Araújo Pereira classifica o humor como uma “estratégia para reagir ao sofrimento“, permitindo a quem o usa “assistir à vida a partir de um refúgio, observar as suas próprias desgraças como se elas acontecessem a uma representação de si mesmas, enquanto permanecem num plano de realidade diferente“. Pega no conceito de humor e desmonta-o, classifica-o e revela-lhe os truques, sustentado por variadíssimos exemplos que passam pelos clássicos literários e vão até séries televisivas, como Seinfeld.

Num texto que, quanto a mim, peca apenas por terminar demasiado depressa, Ricardo Araújo Pereira consegue pôr o seu leitor a pensar no humor e em todas as suas ramificações sob uma nova perspetiva, num registo diferente daquele a que estamos habituados: um humorista a falar de humor num texto não humorístico. 

Não conheço melhor definição do trabalho de humorista. Fazer com que as pessoas se riam desta ideia: por mais que façam, vão morrer. Fornecer-lhes uma espécie de anestesia para esse pensamento. É um ofício belo, nobre, indispensável e inútil: sim, o riso tem o poder de esconjurar o medo, mas só durante algum tempo, talvez apenas durante o tempo que dura a gargalhada. Às vezes, nem tanto.

Classificação: 4/5 – Gostei Bastante

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.