Autor: Meg Wolitzer
Título Original: The Interestings (2013)
Editora: Teorema
Páginas: 592
ISBN: 9789724749617
Tradutor: Raquel Dutra Lopes
Origem: Comprado
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E, juram, serão sempre Os Interessantes.
Ao longo da adolescência, o talento artístico destes seis amigos foi sempre satisfeito e encorajado. Mas o tipo de criatividade que é celebrada aos 15 anos nem sempre é suficiente para impulsionar a vida aos 30 – para não falar dos 50. Nem todos vão conseguir manter viva a chama que os distingue na juventude.
Décadas mais tarde, a amizade mantém-se embora tudo o resto tenha mudado. Jules, que planeava ser atriz, resignou-se a ser terapeuta. Cathy abandonou a dança. Jonah pôs de lado a guitarra para se dedicar à engenharia mecânica. Goodman desapareceu. Apenas Ethan e Ash se mantiveram fiéis aos seus planos de adolescência. Ethan criou uma série de televisão de sucesso e Ash é uma encenadora aclamada. Não são apenas famosos e bem-sucedidos, têm também dinheiro e influência suficientes para concretizar todos os seus sonhos. Mas qual é o futuro de uma amizade tão profundamente desigual? O que acontece quando uns atingem um extraordinário patamar de sucesso e riqueza, e outros são obrigados a conformar-se com a normalidade?
Opinião: O que é uma pessoa interessante? Alguém que se eleva para além do banal? Não será o limite que separa uma pessoa banal de uma pessoa interessante difícil de definir e com muito de subjetivo? Estas foram algumas das questões que me assolaram ao longo da leitura de Os Interessantes, provavelmente o livro que mais notoriedade trouxe à norte-americana Meg Wolitzer (de quem está também publicado em Portugal A Mulher).
Romance de quase 600 páginas, Os Interessantes segue um grupo de amigos que se conhecem num campo de férias quando tinham 15 anos e que, nessa altura, prometeram entre si “«Que a partir de hoje, porque somos de longe as pessoas mais interessantes que alguma vez viveram», decretou Ethan, «porque somos mesmo fascinantes, com os cérebros a abarrotar de pensamentos intelectuais, passemos a ser conhecidos como os Interessantes.»” Só que os sonhos da adolescência são normalmente grandiosos e alheios às vicissitudes da vida real, e é por isso que Jules, Ethan, Ash, Goodman, Cathy e Johan têm destinos muito diferentes daqueles que idealizaram.
Ao longo de um período que abarca cerca de quatro décadas, Meg Wolitzer mostra-nos, maioritariamente pelos olhos de Jules, a evolução das vidas de todos estes amigos, das relações entre eles e da concretização (ou não) das suas ambições. É um desfilar de oportunidades perdidas (ou ganhas, de acordo com a perspetiva) e de “e ses?“, bem como a exploração do significado da amizade e da força que tem perante acontecimentos que, inevitavelmente, a vão pondo à prova ao longo dos anos.
Mas, para além destas questões mais gerais e aplicáveis a qualquer pessoa em qualquer lugar ou época, Meg Wolitzer explora também a vida nova-iorquina, do último quarto do século XX e início do século XXI, e a (o)pressão que pode criar em quem lá mora: “A cidade era um paradoxo, embora talvez sempre o tivesse sido. Era possível ter uma excelente vida ali, mesmo enquanto tudo se desintegrava. A cidade, naquele momento, não era um lugar que alguém fosse recordar com nostalgia, exceto pelo facto de que, no meio de tudo aquilo, caso se fizessem boas jogadas, o dinheiro podia duplicar e era possível comprar um apartamento grande com janelas de vidro triplo com vista para o caos.” E a questão do dinheiro leva-me a outro dos temas em foco no livro, que é a eventual dicotomia talento-dinheiro, dois aspetos que sabemos nem sempre andarem de mãos-dadas e que a autora aqui aborda de uma forma aprofundada e complexa, que pessoalmente me fez refletir bastante.
Considero que Os Interessantes levanta mais perguntas do que traz respostas e que provavelmente o seu objetivo era mesmo dar que pensar ao seu leitor. Oferece-lhe uma história que o faz refletir sobre o curso da sua própria vida, num texto longo mas nem por isso enfadonho, cuja maior qualidade é, julgo eu, ser precisamente interessante. Recomendo.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante