No Coração do Mar, de Nathaniel Philbrick, foi uma das melhores leituras do ano passado. A publicação deste livro em Portugal quinze anos após ter sido publicado deve-se principalmente ao facto de ter sido alvo de uma adaptação cinematográfica com o cunho de Ron Howard (conhecido, entre outros, por A Beautiful Mind, em que ganhou o Óscar de “Melhor Realizador”).
Na passada sexta-feira, apanhei no TV Cine 1 a estreia deste filme e não hesitei em vê-lo. Para quem não conhece a história, No Coração do Mar relata a história verídica do naufrágio do baleeiro Essex em 1820, por acção de uma baleia gigante, e do que aconteceu aos seus náufragos. Nathaniel Philbrick conseguiu, com o seu livro, contar a história de uma forma cativante, num texto muito bem documentado e interessante. A minha curiosidade em relação ao filme era, principalmente, verificar se conseguiria cativar-me da mesma forma, ainda que tivesse noção que era muito provável que a parte jornalística do livro seria deixada para segundo plano.
Visto o filme, posso dizer que o balanço final é positivo. Como seria de esperar, os argumentistas optaram por colocar em primeiro plano os dramas pessoais das personagens, com destaque para os confrontos entre George Pollard, o capitão, e Owen Chase, o primeiro-imediato – aqui interpretado por Chris Hemsworth. A presença deste ator no elenco fazia adivinhar que a sua personagem iria ganhar destaque como o herói da trama e, de facto, assim aconteceu. Quando li o livro, confesso que não simpatizei propriamente com nenhuma das personagens principais, mas num filme admito que fará algum sentido tornar estas disputas de autoridade no Essex como um motor da narrativa e algo passível de aumentar o interesse da história.
Também se optou no filme por prolongar o confronto baleia-homens para além do naufrágio do Essex, e isto já me deixou um bocado cética. Se, por um lado, percebo o apelo da revolta da natureza personificada naquela baleia que persegue os seus caçadores até ao limite, por outro acho que isto leva a narrativa para um plano algo fictício que não se coaduna muito bem com a veracidade da história. E isto leva-me àquilo de que mais senti falta no filme: contextualização. Os ricos detalhes históricos sobre a atividade da baleação e a prosperidade de cidades como Nantucket na primeira metade do século XIX foi dos aspetos que mais me cativaram no livro e, ainda que perceba a dificuldade de enriquecer o filme a este nível, penso que poderia ter sido um maior esforço.
Deixei para o fim uma nuance do filme que me agradou sobremaneira: a história é narrada em retrospetiva por um dos sobreviventes do naufrágio, Tom Nickerson, quando é procurado por Herman Melville, que procurava saber mais sobre a história daquela baleia que não o largava. É facto comprovado que este naufrágio e os relatos que o documentam foram inspiração para Melville escrever o seu famoso Moby Dick, por isso foi uma ideia que me pareceu bem conseguida.
De um modo geral, gostei desta adaptação, mas gostei mais do livro.