Autor: Rebecca Solnit
Título Original: Men Explain Things to Me (2014)
Editora: Quetzal
Páginas: 161
ISBN: 9789897222955
Tradutor: Tânia Ganho
Origem: Comprado
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Solnit começa por contar um episódio cómico, em que um homem lhe explica um livro que não leu e que foi ela que o escrevera. Este episódio deu origem a um texto postado no blogue «TomDispatch» e teve uma repercussão enorme. Foi assim cunhada a palavra mansplain para a situação em que os homens explicam às mulheres coisas que elas sabem e que eles não sabem, chegando a ser considerada a palavra do ano em 2013.
Opinião: Comecemos pelo óbvio: a capa de As coisas que os homens me explicam é fantástica. Por vários motivos, sendo que o maior deles é a sua ligação perfeita com o conteúdo do livro que se lhe segue. A imagem a preto e branco, juntamente com os fatos-de-banho das pessoas que retrata, remete para uma época (metade do século XX) em que o papel principal das mulheres continuava a ser o de mãe e dona-de-casa, sendo uma espécie de “propriedade” do marido. A sensação de liberdade que o salto do homem evoca, por contraste com a mulher sorridente em segundo plano, que parece feliz e conformada com a sua posição, são a metáfora perfeita para o principal tema deste livro: a necessidade premente de se valorizar e continuar a falar do feminismo nos dias que correm.
Rebecca Solnit, uma escritora norte-americana de 55 anos, tem uma longa história de ativismo na luta pelos direitos humanos e valores ambientais e é também uma prolífica escritora de não-ficção (em Portugal encontrava-se já publicado Esta Distante Proximidade, também pela Quetzal). A partir de um episódio no qual foi vítima de condescendência por parte de um homem que lhe queria explicar coisas sobre um livro que ela própria tinha escrito, Rebecca Solnit escreveu o ensaio que dá título a este livro, e no qual chama a atenção para o facto de que as opiniões das mulheres continuam a ser muitas vezes preteridas em prol das dos homens (sugiro a visita ao Tumblr “Mulher não Entra“). Segundo a própria autora, “Os homens explicam-me coisas, ainda hoje. E nunca nenhum homem pediu desculpa por me explicar, erradamente, coisas que eu sei e ele não.“
Os restantes ensaios de As coisas que os homens me explicam têm como fio condutor o feminismo e a necessidade premente que continue a existir. A autora foca-se muito na realidade norte-americana – com especial destaque para a violência doméstica e violações – socorrendo-se de estatísticas para explicar que estes crimes continuam a ser, maioritariamente, praticados por homens e que a frequência com que acontecem justificaria maior atenção por parte dos decisores políticos e dos media. Diz ela, “Não é que eu queira implicar com os homens. Mas estou convencida de que, se reparássemos que as mulheres são, regra geral, radicalmente menos violentas do que os homens, talvez pudéssemos analisar de uma maneira muito mais produtiva de onde vem a violência e o que podemos fazer para a eliminar“, e eu tendo a concordar.
Rebecca Solnit refere variados casos mediáticos, como o de Dominique Strauss-Kahn ou o da violação coletiva em Nova Deli, em 2012, para ilustrar os seus pontos de vista, e consegue-o de forma lúcida e convincente, com bem-vindos toques de humor. O livro vinga pela pertinência da (infelizmente) ainda necessária chamada de atenção para a importância do feminismo, que a autora define assim: “o feminismo é um esforço para mudar algo muito antigo, disseminado e profundamente enraizado em muitas culturas – talvez em quase todas – espalhadas pelo mundo fora, em inúmeras instituições e na maior parte dos lares da Terra; e nas nossas mentes, onde tudo começa e acaba.“
Recomendado.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante