Autor: Romain Gary
Título Original: La vie devant soi (1975)
Editora: Sextante
Páginas: 184
ISBN: 9789896760359
Tradutor: Joana Cabral
Origem: Comprado
Opinião: “O Goncourt é como a vida e como a morte – não se aceita nem se recusa”, foi a reação do júri do famoso Prémio literário francês, quando em 1975 o relativamente desconhecido autor Émile Ajar o venceu e recusou. Ajar era, na realidade, um pseudónimo do escritor de origem lituana Romain Gary, que viveu em França a partir dos 14 anos. Diz o regulamento do Prémio Goncourt que um mesmo autor só pode vencê-lo uma vez na vida, e, após ter sido laureado em 1956, Gary voltou a concorrer sob pseudónimo, tornando-se assim o único escritor a vencê-lo duas vezes. A sua verdadeira identidade só foi revelada após o suicídio do autor, em 1980.
Momo é o jovem narrador deste livro; é um rapaz de origem árabe com 14 anos, deixado em bebé na casa de Madame Rosa, uma prostituta reformada e judia que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz. A casa dela era um abrigo de crianças filhas de prostitutas que não as podiam criar, e que pagavam, por isso, uma compensação a Madame Rosa por ficar com elas. Momo conta como foi a sua vida naquela casa desde que se lembra, ainda que a narrativa se centre maioritariamente no presente, numa fase em que a casa de Madame Rosa começa a deixar de ser o lar de acolhimento favorito das redondezas e a própria se vê cada vez mais limitada pela sua saúde frágil.
A degradação da condição de saúde de Madame Rosa é o ponto de viragem na vida de Momo: sabe que pode ganhar asas e partir para outra vida, mas os fortes sentimentos que nutre por aquela que foi, provavelmente, a única mãe que conheceu, mantêm-no por perto. Cuidar de Madame Rosa torna-se o principal objetivo da sua ainda curta vida. A história pode, aparentemente, não parecer nada de extraordinário, mas a forma como Romain Gary dá vida ao seu narrador é o que a torna especial. Momo é um rapaz que esconde a sensibilidade e a inocência no seu conhecimento adulto do mundo, pois foi obrigado a crescer depressa demais para a sua idade. A solidão e a tristeza de uma criança que nasce sem uma família e a dignidade na velhice são os temas fundamentais do livro e o que reforça a improvável ligação entre Momo e Rosa.
Apesar de a história girar principalmente em torno das personagens principais e da sua relação, é de referir a multitude de personagens secundárias que povoam o livro, também elas pessoas nas franjas marginais da sociedade, tornam o livro mais rico pela diversidade de etnias e modos de vida. No final de contas, foi um livro de que gostei bastante. É um história rica e enternecedora que deixa marcas. Recomendo.
Nada é branco ou preto e […] o branco é muitas vezes o preto que se esconde, e o preto é às vezes o branco que se deixou enganar.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante