[Opinião] No Coração do Mar – A Tragédia do Baleeiro Essex, de Nathaniel Philbrick

6b575767-1170-4b91-9a50-00f972d24cf5Autor: Nathaniel Philbrick
Título Original:
 In the Heart of the Sea (2000)
Editora: Editorial Presença
Páginas: 320
ISBN: 9789722357142
Tradutor: Maria João da Rocha Afonso e Ana Cristina Pais
Origem: Recebido para crítica

Sinopse: No verão de 1819, o baleeiro Essex partiu de Nantucket para mais uma expedição de caça à baleia. Quinze meses depois, o impensável aconteceu: numa região remota do Pacífico Sul, um cachalote de enormes proporções provocou o naufrágio do Essex. A tripulação de 20 homens refugiou-se em três botes salva-vidas rumo à América do Sul, numa jornada épica pela sobrevivência. Três meses depois, os oito tripulantes que continuavam vivos foram encontrados à deriva. Para sobreviver, usaram todos os recursos, inclusive o canibalismo.

Opinião: Um livro de não-ficção a relatar o naufrágio de um baleeiro norte-americano em 1820. À partida, não seria algo que me suscitasse muito interesse, mas como a sua adaptação cinematográfica estreou há pouco tempo e a história aqui relatada inspirou o famoso Moby Dick, de Herman Melville (que ainda não li), senti a motivação suficiente para viajar até ao século XIX e embarcar nesta perigosa viagem.

O início do livro contém o necessário enquadramento da partida do Essex da ilha de Nantucket, à data a maior potência na baleação. Sabia alguma coisa sobre a atividade, por ter visitado o Museu dos Baleeiros na ilha do Pico, mas nada que se compare com o nível de detalhe aqui apresentado. Os termos técnicos náuticos e relacionados com a atividade começam a abundar e, nessa altura, temi que o livro se fosse tornar algo aborrecido. Não poderia estar mais enganada. Os termos técnicos continuam, o dia-a-dia da tripulação é descrito com detalhe, ainda que não exaustivamente (o que é compreensível, dada a distância temporal e os documentos disponíveis relativamente à viagem), a caça à baleia é bastante explorada, mas a verdade é que não consegui parar de ler. Há já alguns meses que isto não me acontecia, por isso tenho de tirar o chapéu a Nathaniel Philbrick: conseguiu contar de uma forma muito interessante uma história que facilmente poderia transformar-se num relato enfadonho. Não é nem demasiado exaustiva nem demasiado superficial e possui detalhes e observações relevantes que não exaltam em demasia a sua opinião pessoal.

Apesar de já saber o destino do navio Essex e ter uma ideia das provações da sua tripulação após o naufrágio, o autor leva-nos numa viagem de resistência e sobrevivência, que demonstra os extremos a que o ser humano pode ir e que deixa o leitor siderado. No Coração do Mar é relatado num tom jornalístico, sem grandes floreados, que se adequa na perfeição à história que quer contar; a pesquisa feita pelo autor é notável e está documentada de forma bastante detalhada. Para isso, provavelmente contribuiu o facto de Nathaniel Philbrick ser também ele um marinheiro, com vasto historial no jornalismo náutico, e de ser claramente alguém que é apaixonado pelo assunto e sabe do que fala.

Durante os poucos dias que esta leitura me tomou, vivi um pouco com aquela tripulação e passei um pouco das suas privações. Aprendi muito, fiquei mais rica. Tive vontade de ler mais livros de não-ficção, para conhecer mais do que foi e é este mundo em que vivo. Foi um dos poucos livros a que atribuí a nota máxima em 2015 e, por isso, não posso deixar de o recomendar.

Já não recuava, o Essex agora afundava-se. A baleia, tendo humilhado o seu estranho adversário, libertou-se dos pedaços de madeira estilhaçados do casco revestido a cobre e nadou para sotavento, para nunca mais ser vista.

Classificação: 5/5 – Adorei

Nota:  Para mais informações sobre No Coração do Mar, clica aqui.

mae-billboard

Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.