Autor: John Williams
Título Original: Butcher’s Crossing (1960)
Editora: Dom Quixote
Páginas: 304
ISBN: 9789722058421
Tradutor: J. Teixeira de Aguilar
Origem: Comprado
Opinião: Há sempre algum receio em pegar num segundo livro de um autor que nos deslumbrou numa primeira leitura. Receio pela possibilidade de, de algum modo, esse deslumbramento se dissipar fruto de uma desilusão na segunda leitura. Foi isso que senti antes de começar este Butcher’s Crossing, porque Stoner elevou muito a fasquia; no meu íntimo, acho que procurava uma experiência semelhante, apesar de saber que isso seria praticamente impossível.
Butcher’s Crossing decorre em 1870, na América profunda; Will Andrews, um jovem oriundo de Boston e vindo de uma vida relativamente abastada, parte em busca de algo que ele próprio não consegue identificar e que espera encontrar numa terra isolada, com poucos habitantes: Butcher’s Crossing. Quando Andrews lá chega, rapidamente entra em contacto com homens que vivem da caça e comércio de peles de búfalos e vê-se envolvido numa expedição para um terreno longíquo, que promete ser habitado por milhares de búfalos, numa manada de um tamanho já raramente visto na época. O livro retrata esta viagem, mas também a viagem interior de descoberta de Andrews e do seu lugar no mundo.
Normalmente, seria muito difícil interessar-me por um livro com esta temática, mas Butcher’s Crossing foi escrito por John Williams e, por isso, não podia deixar de o ler. A sua escrita brilhante embala o leitor logo desde o início do livro; penso que John Williams conseguiria escrever sobre a coisa menos interessante do mundo e, ainda assim, torná-la cativante pelo dom que tinha com as palavras. Os longos dias que a personagem principal passa a céu aberto, enfrentando os elementos, tinham tudo para se tornar enfadonhos, mas a capacidade que o autor tem em transformar as planícies, as montanhas e toda a natureza em personagens por elas próprias torna tudo muito mais cativante e interessante de seguir. Não são descrições palavrosas, são antes passagens que podem parecer contidas, mas que, no fundo, têm apenas o essencial.
Butcher’s Crossing não foi, pessoalmente, um livro com tanto impacto quanto Stoner; mas também, como disse no início, a fasquia estava demasiado elevada. O receio de estar perante uma obra menor também desapareceu ao longo da leitura, porque John Williams tinha um incrível dom para a escrita. Aguardo agora pela publicação de mais livros do autor em Portugal, com pena que não haja muitos mais.
Uma pessoa nasce, é amamentada na mentira, é desmamada na mentira e aprende mentiras mais elaboradas na escola. Vive toda a vida no meio da mentira e mais tarde, porventura quando está prestes a morrer, descobre que não há nada, nada a não ser ela própria e o que podia ter feito. Só que não o fez, porque as mentiras lhe disseram que havia outra coisa. Nessa altura percebe que podia ter todo o mundo, porque é a única pessoa que sabe o segredo; só que então é tarde demais. Já é demasiado velha.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante