Autor: Anthony Doerr
Título Original: All the Light We Cannot See (2014)
Editora: Editorial Presença
Páginas: 520
ISBN: 9789722355438
Tradutor: Manuel Alberto Vieira
Origem: Comprado
Opinião: Já li vários livros de ficção que decorriam na Segunda Guerra Mundial. É um contexto naturalmente apreciado por escritores, devido não só às possibilidades que um período de guerra oferece, mas também por causa da sua magnitude e horrores associados, não esquecendo a maior facilidade que é obter informação sobre o mesmo. Dito isto, e porque abundam livros tendo como background a Segunda Guerra Mundial, é preciso um pouco mais para me cativar e surpreender. Espera isso de Toda a Luz que Não Podemos Ver, em especial devido a opiniões positivas que venho lendo, mas infelizmente não correspondeu às expectativas.
A história é contada na perspetiva de dois adolescentes, uma rapariga francesa cega e um inteligente rapaz alemão. Os capítulos vão alternando não só entre eles, mas também no tempo, com alguns anos de diferença. Marie-Laure vive com o pai em Paris e vê-se obrigada a fugir com ele para Saint-Malo, no norte do país, para se abrigarem quando a capital de França é tomada pelos alemães. Werner ingressa numa escola da juventude hitleriana e que, depois de passar por diversas vicissitudes na guerra, acaba por ir parar também a Saint-Malo. Não pensem que isto é spoiler, pois o livro inicia-se na véspera do Dia D, quando ambos estão naquela cidade, sendo que depois o autor volta atrás para relatar o percurso de ambos.
Já tenho dito por aqui que gosto de histórias que vão alternando linhas temporais. Mas também digo que isto tem de ser extremamente bem construído, com as linhas temporais a entrecruzarem-se de forma a que o leitor sinta vontade de perceber qual o desenlace e a ligação entre as duas. Ora, neste livro a expectativa maior é perceber quando se dará o encontro dos dois protagonistas e qual o seu impacto. Esperei durante mais de 80% do livro e quando finalmente aconteceu soube-me a pouco. Existe também um diamante que assume um papel principal na história, mas penso que lhe terá sido dado demasiado destaque tendo em conta o final.
É certo que o autor tem uma prosa bela, e consegue introduzir no livro passagens daquelas que dá vontade de guardar. Mas às vezes também parece que lá estão a mais, só porque sim, sem nenhum objetivo concreto. Nota-se que o autor fez uma boa pesquisa, e isso é de louvar, mas pessoalmente falhou-me na construção de personagens que parecessem reais. Werner pareceu-me sempre demasiado indiferente, não sendo a favor mas também não sendo contra a ideologia e atos nazis. Diz-se algures que Werner e Marie-Laure foram obrigados a passar para a idade adulta, mas eu tive dificuldade em avaliá-los desse modo tendo em conta as suas ações: pareceram-me quase sempre demasiado ligados à sua infância. Isto significa também que não senti propriamente um desenvolvimento das personagens, talvez com exceção da parte final.
Apesar de todos estes handicaps, não posso dizer que não gostei do livro. Entreteve, provocou-me curiosidade quanto ao desenlace final, e gostei da escrita do autor a espaços. Mas sem dúvida que, perante todo o hype que o envolve, esperava muito mais.
Classificação: 3/5 – Gostei