[Opinião] A Invenção da Vida, de Lourença Baldaque

24322833Autor: Lourença Baldaque
Ano de Publicação:
2014
Editora: Verso da História
Páginas: 176
ISBN: 9789895549856
Origem: Recebido para crítica

Sinopse: Ao longo da noite de 31 de Dezembro, Mauro recorda as pessoas e os eventos mais marcantes da sua vida desde o ano em que deixou o Recife para viver em Portugal motivado pelo período conturbado do fim da Monarquia e implantação da República. A invenção da vida revela-nos como os lugares e os encontros são um factor decisivo para a descoberta de uma vocação, onde a revolução republicana surge como uma metáfora das batalhas que se travam intimamente como sendo as mais determinantes.

Opinião: Chegar aos 100 anos de vida é um feito notável, mas chegar lá de forma lúcida é ainda mais incrível. Assim aconteceu a Mauro, o narrador desta história, um brasileiro que, com 18 anos, rumou a Portugal instigado pelos ecos da revolução que determinou a queda da Monarquia e a implantação da República, em 1910. Foi uma forma de reinventar a sua vida, de tomar um rumo diferente do que lhe seria destinado à partida.

Mauro decide escrever esta espécie de memórias de modo a deixar gravado para os seus filhos os principais eventos da sua vida, mas o que escreve é muito mais do que isso. Pareceu-me mais do que tudo uma forma de compreender e refletir sobre o que foram os 100 anos que viveu, a nível pessoal. Claro que alguns eventos históricos são referidos, com especial relevância para a implantação da República, mas estes acabam por servir mais de ponto de referência do que como centro da história. 

Existem avanços e recuos na narrativa e também algumas repetições de ideias e pensamentos e, se no início demorei a habituar-me, acabei por perceber que isto seria perfeitamente normal numa pessoa de 100 anos. Mas tenho de confessar que não gostei propriamente da personagem principal e também narrador; o tom confessional do texto provavelmente não ajuda, uma vez que o narrador acaba por revelar algumas facetas e acontecimentos menos empáticos. A narrativa propriamente dita acaba por não se focar na ação, mas sim na forma como o narrador encara a evolução da sua vida e o desenraizamento que sente por ter decidido abandonar o seu país.

É um livro com algumas reflexões pertinentes e uma perspetiva curiosa sobre as gentes e os modos de vida portugueses após a implantação da República. Achei que o livro precisaria de mais chama, de outros eventos que ajudassem a delinear melhor o narrador e a tornar a leitura mais entusiasmante. Ainda assim, foi um livro interessante e que deixa curiosidade em relação a futuros trabalhos da autora.

Classificação: 3/5 – Gostei

 

mae-billboard

Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.