Autor: Jodi Picoult
Título Original: Change of Heart (2008)
Editora: Civilização Editora
Páginas: 435
ISBN: 9789722626491
Tradutor: Ana Figueira
Origem: Comprado
Opinião: O único livro que tinha lido de Jodi Picoult foi Dezanove Minutos, já em 2008. Lembro-me de ter ficado impressionada com a capacidade da autora em lidar com um tema polémico e de ter conseguido, de uma forma bastante convincente, transmitir a ideia do limite ténue entre o que está certo e o que está errado. Desde então ficou a vontade de ler mais coisas dela, mas já se sabe como é… os anos foram passando, outras coisas surgiram, e fui sempre adiando o regresso à autora. Até agora.
Em Troca de um Coração tem um enredo complexo: June Nealon, após ter perdido o primeiro marido num acidente de automóvel, refaz a vida com um segundo marido e a filha que já tinha. Até que ambos são encontrados mortos e o carpinteiro, Shay Bourne, é dado como culpado dos homicídios. Aquando desta tragédia, June encontrava-se grávida de 8 meses e acaba por arranjar forças para continuar, pela sua filha Claire. Onze anos depois, Shay encontra-se prestes a cumprir a sua sentença, que foi a pena de morte. Mas antes, como forma de redenção, deseja doar o seu coração a Claire, que se encontra gravemente doente e a precisar de um coração para sobreviver.
O drama moral que implica a escolha de June em salvar a filha aceitando o coração do homem que lhe levou a outra filha e o marido é um dos pontos centrais do enredo. Mas este vai muito para além disso: o livro dá-nos também as perspetivas do Padre Michael, que se torna conselheiro espiritual de Shay, depois de ter participado no júri que o condenou à pena de morte, de Maggie, a advogada com problemas de auto-estima que decide pegar no caso e tentar evitar a injeção letal, que impediria a doação do coração, e de Lucius, um recluso infetado com o vírus da SIDA e que testemunha alguns dos supostos “milagres” de Shay.
O livro tem um grande pendor religioso, o que não quer dizer que a autora faça a apologia da religião para a resolução de todos os males do mundo. São abordadas com algum detalhe as escrituras gnósticas, por causa de alguns acontecimentos inexplicáveis que vão rodeando Shay e que levam as pessoas a encará-lo como um novo Messias. A pena de morte é, como seria de esperar, um tema que assume protagonismo, bem como a importância de analisar as situações com que nos vamos deparando, sejam elas de maior ou menor importância, com o espírito aberto e com vontade de perceber todos os pontos de vista, admitindo que a nossa forma de ver as coisas pode não ser a mais correta.
A parte final do livro teve um twist que me partiu o coração e que me angustiou. Portanto, foi um livro que mexeu comigo, ainda que considere ter algumas coisas que podiam ter sido melhores. Achei a premissa do livro demasiado fantasiosa, com June a ser provavelmente a mulher mais azarada da história e a coincidência de tudo parecer conjugar-se para o assassino da sua família poder ser o salvador da filha que lhe resta; ultrapassada a descrença, consegui usufruir da história. Também não gostei muito que a baixa auto-estima de Maggie tenha sido resolvida com o aparecimento de um homem porque isso tem subjacente a ideia de que as mulheres necessitam de ser validadas por uma relação para serem felizes. Achei este sub-enredo completamente desnecessário para a personagem e para a história, de um modo geral.
No final de contas, foi uma boa leitura, com temas suficientes para reflexão e com uma história contada de forma cativante e envolvente. Fica o desejo de não demorar tanto tempo a voltar aos livros de Jodi Picoult.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante