Autor: Milan Kundera
Título Original: Nesnesitelná lehkost bytí (1981)
Editora: Bis
Páginas: 400
ISBN: 9789896603434
Tradutor: Joana Varela
Origem: Comprado
Opinião: Não sei há quanto tempo queria ler este livro, só que já era certamente há anos. Sabem aqueles livros sobre os quais pensamos “um dia hei-de ler-te”? Pois, A Insustentável Leveza de Ser estava dentro dessa categoria, especialmente pelo seu título fantástico. Comprei-o no final do ano passado e decidi que, ao contrário de tantas outras ocasiões, não ia esperar muito tempo para iniciar a sua leitura.
Não sei muito bem o que esperava deste livro. Sabia que continha um certo pendor filosófico, e confiei nas boas impressões que tinha vindo a recolher ao longo dos anos, por isso a esperança era que fosse uma boa leitura. A história segue 4 personagens na antiga Checoslováquia dos anos 1960 e 1970, sendo que cada uma das partes funciona mais ou menos como ponto de vista dessas personagens relativamente ao seu relacionamento com as restantes e com os acontecimentos políticos e sociais que o país viveu nessa época.
Tomas é um médico mulherengo, mas acabou por construir uma relação duradoura com Tereza, nem ele sabe bem porquê; Tereza é uma mulher simples, marcada pela relação difícil com a mãe e os complexos de inferioridade que esta lhe legou, que aguenta com dificuldade as infidelidades de Tomas; Sabina é uma pintora talentosa, amante de Tomas, que nos revela a importância da traição (não só amorosa, mas de um modo geral); Franz envolve-se com Sabina e a ligação com a pintora acaba por marcar a sua vida de forma indelével.
O livro forma uma teia complexa de relações e reflexões, não só a nível interpessoal, como a nível político e social. No que respeita a este último, as personagens são marcadas pela invasão russa e domínio do comunismo, não só no seu dia-a-dia, como também na forma como encaram o futuro.
Mas nem só das personagens e seus dilemas vive o livro: o narrador, de cariz omnisciente e subjetivo, faz amiúde várias observações e reflexões sobre o que vai acontecendo. Essas foram das minhas partes preferidas do livro, aquelas que mais me fizeram refletir. As observações são essencialmente sobre a vida, sobre a influência da maternidade/paternidade na nossa vida futura (tema recorrente), sobre a bondade e a condição humana, sobre a existência do corpo e da mente como entidades conjuntas ou distintas, ou sobre o constante rascunho que é a vida, por não podermos contar com a experiência passada nas situações mais importantes da nossa vida.
É também um livro feito de opostos (bem presentes no título), escrito um pouco ao sabor da pena, o que por vezes o faz parecer não ter um rumo definido ou importar-se propriamente com a chegada quando o mais importante é a viagem. Gostei muito da escrita; sem ser muito complicada de seguir, revela uma profundidade e uma clareza notáveis.
O balanço final é muito positivo. Sem ter sido um livro que tenha adorado, marcou-me pelas reflexões perspicazes e pertinentes, pela escrita muito acima da média e pelas personagens imperfeitas, diferentes mas ao mesmo tempo iguais a todos nós.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante