Das Palavras às Imagens (31)

cegueiraEnsaio Sobre a Cegueira foi a minha estreia com José Saramago e tornou-se, de imediato, um dos meus livros favoritos de sempre. Li-o já depois de ter estreado a sua adaptação cinematográfica, em 2008, realizada pelo brasileiro Fernando Meirelles (que também realizou, entre outros, Cidade de Deus). A minha curiosidade em relação a este filme era natural, ainda mais depois da reação do próprio Saramago após tê-lo visto.

 

De uma maneira geral, é um filme bastante fiel à obra em que se baseia, tanto em termos de acontecimentos – e da respetiva cronologia – como da característica que mais apontam ao filme, a violência. Sendo uma história que testa os limites da humanidade e mostra o que ela tem de pior, é um filme que nos deixa muito desconfortáveis, que temos vontade que acabe o mais depressa possível, mas que ainda assim deixa entrever alguma esperança, mesmo no meio do caos.

 

As interpretações são muito boas, com destaque para Julianne Moore: ainda estou para ver um filme em que não goste da sua prestação. De Mark Ruffalo já não gostei tanto, mas aí admito que sou eu que tenho problemas com o ator, uma vez que o acho um pouco limitado.

 

No final de contas, foi um filme que me deixou um bocado dividida: achei que se trata de uma adaptação fiel, que tem o conteúdo mas a que falta a forma. Na realidade, um dos grandes trunfos de Ensaio Sobre a Cegueira (o livro) é a escrita de Saramago, e essa não é adaptável. Foi isso que faltou a esta experiência visual, a profundidade das palavras de Saramago, o que acabou por fazê-la perder algum significado e tornar a sua violência e angústia, de certo modo, gratuitas.

 

Não é um mau filme, longe disso. Mas para quem já experimentou esta história com a prosa de Saramago acaba por saber a pouco.

mae-billboard

Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.