Aviso prévio: esta opinião sobre o filme Em Parte Incerta contém spoilers.
Em Parte Incerta (Gone Girl, no original) era um dos filmes que tinha mais expectativas em ver por estes dias, não só porque gostei muito do livro de Gillian Flynn, no qual se baseia, mas também porque David Fincher é um dos meus realizadores preferidos.
Confesso que fiquei algo apreensiva quando soube que Ben Affleck tinha sido o escolhido para o papel de Nick Dunne, porque sinceramente não é o meu ator preferido e não encaixava visualmente no Nick que nos é descrito no livro. Quanto a Rosamund Pike, não tinha opinião formada e por isso estava expectante quanto ao seu desempenho. No que respeita à adaptação propriamente dita, estava mais ou menos descansada a partir do momento em que soube que a argumentista seria a própria Gillian Flynn. A dada altura, falou-se num final diferente para a história e isso aumentou ainda mais o meu interesse.
Digo desde já que a adaptação está extremamente fiel, daquilo que me lembro do livro. Tanto a nível de estrutura narrativa, com a alternância entre presente e passado (diários da Amy), como a nível de diálogos, é fácil de perceber que houve preocupação em fazer deste filme um veículo visual do livro que lhe serve de base.
Apesar das minhas reticências, Ben Affleck acaba por ser um Nick convincente. Acho-o um bocado limitado como ator, mas isso acabou por ser uma vantagem no desempenho deste papel, uma vez que Nick Dunne exigia uma certa ingenuidade e estupidez natural que acho que Affleck consegue replicar bem. Quanto a Rosamund Pike, fiquei fã, especialmente a partir do momento em que Amy se torna a vilã da história: foi simplesmente perfeita. Antes disso, achei-a com um ar demasiado cínico e aristocrata para a Amy-vítima; isto pode ter acontecido por já o twist fulcral da história. O inesperado final fez-me alguma confusão no livro, mas achei que a autora o conseguiu justificar de forma convincente; no filme, tive bastante mais dificuldade em perceber porque é que aquelas duas pessoas insistiram em ficar juntas.
Tentando analisar o filme de forma objetiva, é muito bom. Uma adaptação convincente de uma história marcante. Ainda assim, esteve longe, muito longe, de ter tido o mesmo impacto que o livro teve sobre mim. Quem sabe se isso não teria acontecido se o tivesse visto primeiro.