Autor: Fabio Geda
Título Original: Nel mare ci sono i coccodrilli. Storia vera di Enaiatollah Akbari (2010)
Editora: Objectiva
Páginas: 177
ISBN: 9789896720650
Tradutor: Vasco Gato
Origem: Ganho em passatempo
Enaiatollah tinha dez anos e prometeu. Não sabia ainda que essas seriam as últimas palavras que escutaria da mãe antes de esta o deixar num campo de refugiados no Paquistão. Porque nasceu no Afeganistão no seio de uma minoria, e porque teve o azar de perder o pai precocemente, foi arrancado de casa aos dez anos. O seu corpo em crescimento já não cabia na cova onde corria a esconder-se sempre que batiam à porta de casa. É com este trágico acto de amor que começa a nova vida de Enaiatollah Akbari, assim como a incrível viagem que o levará até Itália, passando pelo Irão, pela Turquia e pela Grécia, onde descobre que no mar há crocodilos. Uma odisseia que o obrigou a enfrentar a miséria e a nobreza humanas, mas que não conseguiu roubar-lhe o sorriso de criança. Nascer no Afeganistão significa crescer à pressa. Enaiatollah precisou de esquecer a infância para poder sobreviver, mas encontrou finalmente um lugar para viver a idade que realmente tem. Esta é a sua história.
Opinião: Apesar de todos os problemas pelos quais Portugal tem passado, considero que vivemos num país civilizado, onde os direitos humanos básicos estão, de um modo geral, disponíveis a todos. Considero também que, mesmo tendo as condições básicas para uma vida saudável e feliz, devemos lutar sempre por mais e melhor, mas essa luta por vezes faz-nos esquecer que continuam a existir muitos países no mundo onde as condições de vida são miseráveis, onde as crianças não têm direito a ser crianças, onde as pessoas vivem num clima de terror, sem grandes perspetivas para o futuro.
Agora que sou mãe, talvez me custe um pouco menos a perceber o que levou a mãe de Enaiatollah, um menino afegão na altura com 10 anos, a deixá-lo por sua conta num país diferente do seu. Digo que me custa menos porque, apesar de ser uma decisão terrível, compreendo que aquela mãe amava tanto o seu filho ao ponto de saber que a separação era uma oportunidade de ele continuar vivo. É com este acontecimento que Enaiat nos começa a contar a sua incrível história, a de uma criança que teve de deixar para trás a meninice de modo a conseguir sobreviver.
Fabio Geda, escritor italiano, conta-nos aqui a história de Enaiat, que conheceu em Itália vários anos depois de ester ter sido deixado à sua sorte. À partida, sabemos que Enaiat conseguiu chegar a um porto seguro, mas é a sua viagem o centro da narrativa. Passando por vários países (Paquistão, Irão, Turquia, Grécia e, finalmente, Itália), Enaiat vê-se obrigado a confiar em várias pessoas, enganando o azar e conseguindo finalmente chegar a um país onde pode estudar e deixar para trás a vida de miséria. Enaiat é mais um de tantos meninos deixados por sua conta, um refugiado que deixou o seu país pelas mãos da mãe e que teve a sorte e o engenho de conseguir chegar a um local onde pôde estudar e ter uma vida decente.
É um livro curto, contado de um forma direta e factual, e por isso às vezes parece demasiado seco. Ou seja, o leitor vai tendo conhecimento do que acontece a Enaiat, mas raramente sabe mais sobre as suas emoções no momento. Penso também que o livro teria ganho com maior desenvolvimento por parte do autor no sentido de fornecer maior contexto das condições de vida no Afeganistão e também um pouco mais sobre a vida de Enaiat antes de ter sido separado da família. Ainda assim, é um retrato interessante sobre as questões da imigração ilegal e tem a vantagem de nos fazer pôr os pés no chão e nos sentirmos felizes pelo que temos.
Classificação: 3/5 – Gostei