[Opinião] Além Tejo, de Catarina Pereira Araújo

8610464Autor: Catarina Pereira Araújo
Ano de Publicação: 2008
Editora: Saída de Emergência
Páginas: 320
ISBN: 9789898032379
Origem: Comprado

Sinopse: Estamos na década de cinquenta e a família de António do Couto Maia deixa Lisboa para se fixar em Moura, no Alentejo. A decisão é do chefe de família e surpreende tanto a mulher como as filhas, que não compreendem o que leva um homem de meia-idade a abandonar subitamente a sua confortável vida na capital para mergulhar num Alentejo desconhecido. É através do olhar de Isabel, a filha mais velha, que assistimos ao conflito entre dois mundos: o da cidade, representado pelos recém-chegados, e o mundo rural, que os recebe com desconfiança. Inicialmente atraída pela beleza da vila alentejana, a jovem é confrontada com a prepotência dos senhores e com a miséria dos camponeses, num lugar onde qualquer tentativa de midança é imediatamente esmagada. O seu sentido de justiça leva-a a colidir com Eduardo Leôncio Teles, o herdeiro da maior fortuna da região, iludindo, assim, a forte atracção que sente por ele. Ao mesmo tempo, Isabel envolve-se nos acontecimentos da vida rural, enquanto tenta descobrir o segredo que levou o pai a esconder-se no Alentejo, arrastando a família para uma existência tão difícil.

Opinião: Já tinha este livro em fila de espera há alguns anos e desde que soube que era inspirado nos clássicos ingleses “Orgulho de Preconceito” e “North and South”, mas com o enredo a basear-se em Portugal, o meu interesse aumentou. 

Viajamos até à década 1950, no auge do Estado Novo. A família Couto Maia, pais e duas filhas, vivem em Lisboa quando o patriarca da família, António, comunica à família que terão de mudar-se para Moura, sem contudo dar razões para tal. A filha mais velha, Isabel, sabe da importância de acompanhar os seus para onde quer que vão e deixa para trás a carreira de professora; Inês, a mais nova, namoradeira e com vontade de apenas se tornar dona-de-casa, faz um drama e só a muito custo segue a família. Já em Moura, Isabel conhece e antagoniza-se com o dono da propriedade para onde o pai vai trabalhar, e desde o início que toda a gente sabe como a história dos dois vai terminar. Entretanto, Isabel fica sensibilizada com as precárias condições de vida dos trabalhadores da região e com a pouca escolaridade da maioria, fazendo sempre questão de revelar sem pudores as suas ideias em relação ao papel da mulher na sociedade e revoltando-se ela própria com o que parece o destino marcado de todas: tornar-se dona-de-casa.

Parti para a leitura deste livro esperando encontrar nele os elementos que me cativaram nos livros que lhe serviram de inspiração. Contudo, as semelhanças são tão evidentes que tenho quase vontade de dizer que é um retelling dos mesmos. A fuga misteriosa para outro local do país por vontade do pai, o encontro entre os protagonistas marcado por uma agressão dele a um seu subordinado, as dicotomias entre os locais de origem dos protagonistas e as preocupações sociais da protagonista são coisas que vimos em “North and South”; a cena final inspira-se não na cena final do livro, mas na da mini-série. A mãe fútil, a irmã que vê o seu apaixonado ser afastado por uma familiar que não os quer juntos, uma personagem secundária que engana a protagonista com o seu charme para mais tarde se vir a revelar um canalha do pior, o orgulho da protagonista e o preconceito do protagonista: tudo isto pertence a “Orgulho e Preconceito”. Isabel é obviamente uma mistura entre Margaret Hale e Elizabeth Bennet, mas Eduardo fica, quanto a mim, a milhas de distância de um John Thornton ou de um Mr. Darcy.

Pessoalmente, nunca consegui olhar para esta história por ela própria e a falta de originalidade incomodou-me. Claro que gostei do toque português e da preocupação da autora com a caracterização do modo de vida das pessoas mais simples da época em que situa a sua história, mas sendo este um livro sobre pessoas o enredo raramente se desvia muito das personagens e dos seus dilemas. Gostei das personagens, apesar de por vezes as ter achado estereotipadas, e o livro lê-se muito bem, com uma escrita cuidada, ainda que quanto a mim tivesse a ganhar em adotar mais vezes a técnica “show, don’t tell“.

Portanto, apesar de ter sido uma leitura longe de marcante, acabou por ser agradável e permitiu-me tomar contacto com uma autora portuguesa que desconhecia. 

Classificação: 3/5 – Gostei

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.