[Opinião] O Ingénuo, de Voltaire

6324431Autor: Voltaire
Título Original:
L’Ingénu (1767)
Editora: Quasi
Páginas: 93
ISBN: 9789895523658
Tradutor: João Gaspar Simões
Origem: Comprado

Sinopse: O Ingénuo conta-nos a história de um índio hurão que desembarca na Bretanha, França, e que, depois de convertido ao catolicismo e baptizado, se apaixona pela sua madrinha, confrontando-se com os interditos e costumes religiosos e com a hierarquia social. De forte pendor filosófico, esta obra faz uma sátira, cheia de bom humor, ao catolicismo, à sociedade e à nobreza francesa.
 

Opinião: Antes de passar à opinião propriamente dita deste livro, uma curiosidade: O Ingénuo é o livro mais antigo que já li. Não conto com “Os Lusíadas” porque apenas estudei excertos na escola e nunca cheguei a ler a obra por completo, portanto este livro de uma das figuras mais importantes do Iluminismo, publicado em 1767, foi mesmo o primeiro livro que me fez recuar para trás do século XIX no que às leituras diz respeito. Se calhar um pouco por isso, confesso que parti para esta leitura com algum receio de ter dificuldades com o estilo da linguagem, mas tal acabou por não acontecer.

O Ingénuo é uma sátira à Igreja Católica e ao sistema político do seu tempo, tendo como protagonista um índio americano que viajou para a Grã-Bretanha e depois para França, levado pela sua curiosidade natural de conhecer outras terras e outras gentes. Ingénuo, assim era o seu nome, é de imediato convencido a converter-se à religião católica, mas não deixa entretanto de questionar ensinamentos bíblicos e de apontar divergências entre os mesmos e o que era levado à prática. 

Depois de ter ajudado os franceses a lutar contra os ingleses, ruma à capital a fim de obter condecorações reais, mas acaba preso. É durante a sua prisão que Ingénuo expande horizontes, pois o seu parceiro de cela era um jansenista com quem aprende a argumentar e que o ajuda a ter uma perspetiva diferente sobre vários temas. E é na prisão de Ingénuo e na sua libertação que o autor aproveita para criticar ferozmente a corrupção política e moral da sociedade francesa pré-revolução.

Como disse acima, é um livro de leitura fácil tendo em conta os quase 250 anos que passaram desde a sua publicação original. Como é óbvio, contém em si marcas do seu tempo, mas é, sem dúvida, um documento que se mantém atual, porque os vícios que descreve continuam a existir, bem com a falta de bom senso com que se analisam os temas fraturantes da sociedade. Portanto, e apesar de a história por vezes me ter aborrecido um bocadinho, acabou por ser uma leitura que valeu a pena. Fico, assim, com curiosidade por ler outro livro que tenho por cá deste autor, Cândido.

Classificação: 3/5 – Gostei

mae-billboard

Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.