Autor: Gillian Flynn
Título Original: Dark Places (2009)
Editora: Bertrand
Páginas: 416
ISBN: 9789722527163
Tradutor: Tânia Ganho
Origem: Comprado
Opinião: Gone Girl foi um dos meus livro preferidos de 2013, e quando o li soube logo que teria de ler mais qualquer coisa da Gillian Flynn para confirmar aquela primeira boa impressão. A oportunidade surgiu com este Lugares Escuros, o segundo livro publicado pela autora, antes de Gone Girl.
Lugares Escuros segue duas linhas temporais: no presente, conhecemos a estranha Libby Day, que vive com o fantasma dos acontecimentos de 1985, quando a sua mãe e duas irmãs foram brutalmente assassinadas na casa onde viviam. Libby conseguiu sobreviver, mas a forma como perdeu parte da família contribuiu para que a menina com então 7 anos tivesse uma infância-adolescência desregrada, sem o desejável apoio familiar, e se tivesse tornado numa mulher esquiva e anti-social. A outra linha temporal recupera a véspera e o dia dos assassinatos, sob a perspetiva de Patty Day, a mãe de Libby, e de Ben Day, o seu irmão, que foi declarado culpado dos crimes e que se encontra atualmente na prisão.
Libby viveu ao longo destes anos à conta de um fundo com dinheiro doado por várias pessoas por causa da sua situação precária, mas quando a história começa o dinheiro está no fim e Libby não quer trabalhar. É por isso que aceita a proposta que lhe chega do Kill Club, um clube secreto onde as pessoas se entretêm a estudar e a investigar detalhes dos crimes mais famosos do país: essa proposta inclui o fornecimento de memorabilia das vítimas e Libby contactar algumas das pessoas que possam ter estado envolvidas. Isto porque muitos dos membros acreditam na inocência de Ben Day e pretendem prová-la.
Gillian Flynn cria aqui, quanto a mim, um retrato interessante das zonas rurais norte-americanas de meados da década de 1980, onde o satanismo era, pelos vistos, uma moda. É neste contexto que encontramos a família Day, mãe e 4 filhos menores abandonados pelo pai, que mora numa quinta onde investiu as suas poupanças, atraída pelo boom da agricultura. Mas as coisas não correm bem e os Day passam por dificuldades financeiras, enquanto Ben, o adolescente de 15 anos, luta contra o bullying e o facto de se sentir deslocado no seu grupo de “amigos” (tema, aliás, que continua muito atual).
Todo o tom do livro é negro e macabro, e são muitas as partes em que o leitor se sente desconfortável. Aliás, tendo em conta o Gone Girl, já esperava encontrar pessoas malucas e disfuncionais, mas ainda assim achei a criação de todo este ambiente notável da parte da autora. As partes decorridas em 1985 foram as minhas preferidas: tanto Patty como Ben revelam-se duas personagens credíveis e com quem, apesar dos seus “lugares escuros”, simpatizamos.
Já com a parte do presente, narrada por Libby, tive alguns problemas. Em primeiro lugar, porque a Libby me deixou um bocado indiferente. Acho que era suposto sentirmos um misto de repulsa e pena por aquilo em que esta personagem se tornou, mas senti sempre a falta de qualquer coisa que me conseguisse fazer acreditar, de forma convincente, que aquela pessoa era exatamente assim. Depois, ao fim de tanto anos a “esquecer” o que aconteceu à família e a preferir não remexer no passado, é a falta de dinheiro e umas quantas pessoas desconhecidas que a vão motivar a desenterrar fantasmas antigos? Não fiquei muito convencida.
É um bom livro, apesar de tudo. A voz da autora é um ponto positivo e o desenlace da história, apesar de não ser tão completamente inesperado como em Gone Girl, tem os seus méritos e faz sentido dentro da história. Portanto, recomendo este livro a quem procura um policial fora do vulgar, com uma boa caracterização psicológica das personagens (apesar da Libby) e com temas e situações suscetíveis de criar incómodo no leitor.
Classificação: 3/5 – Gostei