Autor: João Paulo Cuenca, Miguel Gonçalves Mendes e Tatiana Salem Levy
Editora: Jumpcut
Páginas: 136
ISBN: 9789899876903
Tradução para chinês: Tzu-An Wu
Origem: Recebido para crítica
Sinopse: O realizador Miguel Gonçalves Mendes e os escritores brasileiros Tatiana Salem Levy e João Paulo Cuenca viajaram até ao Extremo Oriente para uma troca de experiências com artistas e pensadores de Macau, Hong Kong, Vietname, Camboja e Tailândia.
Desse contato nasceu «Nada Tenho de Meu», uma série de 11 episódios em forma de pretenso documentário, que explora os limites entre a realidade e a ficção.
Opinião: Miguel Gonçalves Mendes é o realizador do aclamado documentário José e Pilar, de 2010, que acompanhou durante dois anos a vida do casal. Lamentavelmente, ainda não vi o documentário, mas é algo que pretendo corrigir em breve. Nada Tenho de Meu é o último projeto do realizador português e a convite da editora do livro aceitei lê-lo porque achei que seria interessante pegar em algo completamente diferente do que costumo ler.
O ponto de partida do livro foi uma viagem do realizador e dos escritores brasileiros João Paulo Cuenca e Tatiana Salem Levy a Macau para participarem no 1.º Festival Literário de Macau – Rota das Letras. Nessa altura surgiu a vontade de alargar a visita ao Extremo Oriente a outras paragens, o que levou o trio ao Vietname, Cambodja e Tailândia, acompanhados do desejo de abandonarem o fato de turistas e vestirem o de viajantes, e, como Gonçalo Cadilhe afirma no início deste livro, tocarem o limite da condição de viajante, expandindo-o à fronteira com a ficção. O título do projeto é retirado de uma carta de Camilo Pessanha, poeta português que viveu em Macau, que uma vez afirmou “para além destas cartas, nada tenho de meu“.
Este diário tem componentes de realidade e componentes de ficção, que o leitor apenas pode adivinhar onde se encontram. Mas, finda a leitura, o encontrar desta fronteira acaba por não ser o mais importante: ficam antes as reflexões de pendor marcadamente filosófico – a emular a importância do imaterial e da espiritualidade na cultura oriental – que levam o leitor a ponderar a (pouca) importância dos objetos e da sua posse e a refletir sobre o significado da vida. A mim, pessoalmente, tocou-me na faceta minimalista que tenho vindo a desenvolver nos últimos tempos.
Como objeto, o livro é lindíssimo: capa dura, papel de grande qualidade e um aspeto gráfico que acompanha a estética dos 11 episódios nos quais se baseia. As imagens são retiradas dos episódios, e os textos que as acompanham são, na sua maioria, transcrições de partes dos mesmos, havendo ainda espaço para alguns textos que contextualizam acontecimentos importantes dos países por onde os viajantes vão passando. De referir ainda que se trata de uma edição bilingue português-chinês.
Os episódios começaram a ser transmitidos na RTP2, no passado dia 20 de dezembro, e as emissões estão marcadas para as sextas-feiras, às 21h50. Se quiserem, podem ainda vê-los online, no canal do Sapo (ainda só tem o primeiro episódio, mas suponho que os restantes deverão ficar igualmente disponíveis).
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante